DOIS CASOS DE CURA

 

(...)

Uma senhora de nosso conhecimento tinha um filho de quatro a cinco anos, acometido de um tumor no joelho, em consequência de uma queda. O mal se tornou tão grave que ela resolveu consultar uma celebridade médica, que opinou pela amputação do membro, julgada urgente e indispensável, para salvar a vida da criança. A mãe era sonâmbula*. Não podendo decidir quanto à operação, cujo resultado era duvidoso, resolveu tratar ela própria. Ao cabo de um mês a cura era completa. Um ano depois, com o filho já forte e sadio, ela foi ver o médico e lhe disse: “Eis o menino que, em vossa opinião, deveria morrer se não lhe cortassem a perna. – Que quereis? (respondeu ele) A Natureza tem recursos tão imprevistos!”

O outro caso é pessoal. Há cerca de dez anos fiquei quase cego, a ponto de não poder ler nem escrever e não reconhecer uma pessoa a quem desse a mão. Consultei as notabilidades da Ciência, entre outras o Dr. I..., professor de clínica para as moléstias dos olhos. Depois de um exame muito atento e consciencioso, declarou que eu sofria de uma amaurose e que devia resignar-me. Fui ver uma sonâmbula, que me disse que não era amaurose, mas uma apoplexia nos olhos, que poderia degenerar em amaurose se não fosse tratada adequadamente. Declarou responder pela cura. Em quinze dias, disse ela, experimentareis uma discreta melhora; em um mês começareis a ver e, dentro de dois ou três meses, estareis curado. Tudo se passou como ela previra e hoje minha visão está completamente restabelecida.

 

Livro:    Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos - Ano V, 1862

               (nº 8 – agosto de 1862)

               Allan Kardec

               FEB - Federação Espírita Brasileira

 

(*) – Nota de Fernando Peron (setembro de 2010):

         O sonambulismo é um estado de emancipação da alma, uma faculdade mediúnica. Ver obras de Allan Kardec: O Livro dos Espíritos (questões 425 a 455) e O Livro dos Médiuns (ítens 172 a 174).