REMÉDIO - CORPO E ESPÍRITO

 

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    Liberto, Cavalcante oferecia-me amplo ensejo a infatigáveis pesquisas. A injeção sedativa, vei­culando anestésicos em dose alta, afetara-lhe o corpo perispirítico, como se fora choque elétrico. Devido a isso, ele permanecia quase inerte, ignorando-se a si mesmo. Inquirido por mim, vezes diversas, não sabia concatenar raciocínios para responder às ques­tões mais rudimentares, alusivas à própria identi­dade pessoal.

    Notando o meu interesse a respeito do assun­to, Jerônimo, após ministrar-lhe os primeiros socorros magnéticos, na Casa Transitória, prestou-me os seguintes esclarecimentos:

    — Qualquer droga, no campo infinitesimal dos núcleos celulares, se faz sentir pelas propriedades elétricas específicas. Combinar aplicações químicas com as verdadeiras necessidades fisiológicas, cons­tituirá, efetivamente, o escopo da Medicina no porvir. O médico do futuro aprenderá que todo re­médio está saturado de energias electromagnéticas em seu raio de ação. É por isso que o veneno destrói as vísceras e o entorpecente modifica a na­tureza das células em si, impondo-lhes incapacidade temporária. A gota medicamentosa tem princípios elétricos, como também acontece às associações atô­micas que vão recebê-la. Segundo sabemos, em pla­no algum a Natureza age aos saltos. O perispírito, formado à base de matéria rarefeita, mobiliza igual­mente trilhões de unidades unicelulares da nossa esfera de ação, que abandonam o campo físico sa­turadas da vitalidade que lhe é peculiar. Daí os sofrimentos e angústias de determinadas criatu­ras, além do decesso. Os suicidas costumam sentir, durante longo tempo, a aflição das células violen­tamente aniquiladas, enquanto os viciados experimentam tremenda inquietação pelo desejo insatis­feito.

    A elucidação era lógica e humana. Fui com­preendendo, por minha vez, pouco a pouco, a importância do desapego às emoções inferiores para os homens e mulheres encarnados na Crosta. Ma­téria e espírito, vaso e conteúdo, forma e essência, confundiam-se aos meus olhos como a chama da vela e o material incandescente. Integrados um no outro, produziam a luz necessária aos objetivos da vida.

    O exame dos casos de morte trouxera-me sin­gular enriquecimento no setor da ciência mental. O Espírito, eterno nos fundamentos, vale-se da ma­téria, transitória nas associações, como material didático, sempre mais elevado, no curso incessante da experiência para a integração com a Divindade Suprema. Prejudicando a matéria, complicaremos o quadro de serviços que nos é indispensável e estacionaremos, em qualquer situação, a fim de restaurar o patrimônio sublime posto à nossa dis­posição pela Bondade Imperecível. Tanto seremos compelidos ao trabalho regenerador, na encarnação, quanto na desencarnação, na existência da carne quanto na morte do corpo, tanto no presente quanto no futuro. Ninguém se colocará vitorioso no cume da vida eterna, sem aprender o equilíbrio com que deve elevar-se. Daí as atividades complexas do ca­minho evolutivo, as diferenciações inumeráveis, a multiplicidade das posições, as escalas da possi­bilidade e os graus da inteligência, nos variados planos da vida.

 

Livro:  Obreiros da Vida Eterna

Francisco Cândidio Xavier, pelo Espírito André Luiz

FEB – Federação Espírita Brasileira