Prefácio do livro Materializações de Espíritos

 

Autor: Paul Gibier

 

Em recente número de Psychic News, - o jornal espírita de maior circulação no mundo, como dizem os ingleses, - tive ocasião de ver que certa articulista, cujo nome não anotei pois não havia ainda pensado neste trabalho, respondia, em termos, a um desses parapsicólogos que nunca fizeram experiências espíritas e andam por aí proclamando que o ilustre sábio inglês Sir William Crookes, já com mais de quarenta anos de idade e grandes experiências realizadas no terreno científico, portanto, um homem sereno e observador, fôra ingênua e redondamente enganado pela jovem médium Florence Cook.

Como isto se passou na Inglaterra, deixei-o ficar por lá, porém, tendo tido também o ensejo de comprar a versão brasileira de uma obra intitulada: “Os poderes secretos do homem”, da autoria do francês Robert Tocquet, diz que essa médium inglesa (como eles julgam todos os espíritas!) aprendera desde cedo enganar esses tolos espíritas e que as suas sessões com Crookes foram todas fraudulentas, resolvi capitular, resumidamente, a história das aparições do espírito de “Katie King” por meio da referida médium, mas desde as suas primeiras sessões da materialização, a fim de que os nossos esclarecidos leitores julguem o caso, já que estes “poderes secretos do homem” ou “poderes ocultos da mente” não chegaram, nem chegam (porque não o puderam) a explicar como a mente de uma pessoa ou pessoas funciona para alucinar uma máquina fotográfica a ponto desta fotografar coisas que não existem para eles, parapsicólogos. Porque, diga-se a verdade, esse espírito foi fotografado por diversas vezes, na presença de muitos assistentes, pessoas de grandes nomes e não menor reputação, entre as quais Sir William Crookes, considerado, na sua época, um dos três maiores sábios da Inglaterra.

Como a palavra de um espírita é sempre suspeita para esses parapsicólogos-negativistas, vamos recorrer a um dos mais reputados dicionários enciclopédicos brasileiros, qual o organizado pela Editora Globo, sob a competente direção do professor Álvaro Magalhães. Da página 664, da edição que temos em mãos, transcrevemos a seguinte nota biográfica:

CROOKES, Sir William – “Biógrafo, Químico e físico inglês (1832-1919). Nascido e educado em Londres, estudou com A. W. Hofmann no Royal College of Chemistry. Fundou a importante revista Chenical News, na qual publicou o primeiro número em 1859. Notabilizou-se por suas pesquisas na espectografia, sobre reios catódicos e fenômenos radioativos, pelas quais se tornou o precursor imediato das idéias atuais acerca da constituição da matéria. Inventou o radiômetro (1874), o espintariscópio (1903) e os vidros especiais que vedam a passagem dos raios de calor e de luz ultravioleta. Descobriu o elemento químico tálio em 1861”.

Consta do livro fotografia número 1 com o seguinte texto:

Extraordinária Fotografia espírita colhida entre asinúmeras que ilustram o livro "Spirit Photography" do Major TomPatterson.

As fotografias espíritas ou transcedentais são chamadas"extras".

Eis o adulto, o sábio meticuloso e observador, que, durante vários anos, foi, como os seus amigos, engazopados pela jovem médium...

Achamos oportuno rememorar o caso, fazendo um resumo da “História das aparições de “Katie King”, mas, como já a temos excelentemente feita e reproduzida na obra do engenheiro Gabriel Delanne “A alma é imortal”, vamos reproduzi-la tal e qual.

Embora a verrina só tenha sido lançada contra este sábio inglês, resolvemos traduzir, em defesa dos fenômenos de materializações de fantasmas ou espíritos, dois pequenos e importantes trabalhos do Dr. Paul Gibier e do Prof. Ernesto Bozzano, o primeiro precedido de sua autobiografia, para demonstrar que o Espiritismo conta, nas suas fileiras, com homens de alto gabarito moral e intelectual.

E o supracitado Robert Tocquet quem é ou era? Em 1954, era ainda professor de Química da Escola Lavoiseier, de Paris, e fazia parte do Conselho Administrativo do Instituto Metapsíquico Internacional e do corpo de redação (no original: redatorial) do seu órgão a “Revista Metapsíquica”, de que era redator-chefe o outro “demolidor” do Espiritismo, seu homônimo Robert Amadou, para quem todos os “Grandes Médiuns” (título de um livro dele) foram fraudadores.

As infâmias assacadas por Robert Tocquet contra o sábio William Crookes e a médium estão na página 419 de “Os poderes secretos do homem”. Contra Crookes assim: “Já dissemos o que pensávamos das experiências do sábio de Florence Cook. Julgamos que elas podem ser explicadas com duas palavras: mistificação, sempre, cumplicidade, as vezes”. E contra o médium: “O médium de Katie King era uma clínica e hábil farsista”. Assim são os parapsicólogos.

Mas passemos às aparições e materializações do espírito em questão.

HISTÓRIA DE KATIE KING
Os fenômenos de materialização constituem as mais altas irrefragáveis demonstrações da imortalidade.

Surgir um ser defunto diante dos espectadores com uma forma corpórea, conversar, caminhar, escrever e desaparecer, quer instantaneamente, quer gradativamente, sob as vistas dos observadores, é de certo o mais empolgante e o mais singular dos espetáculos. Isso, para um incrédulo, ultrapassa os limites da verossimilhança e provas físicas, irrefutáveis, se fazem necessárias para que o fenômeno não seja lançado à conta de fraude ou alucinação.

Felizmente, porém, bom número existe de observações relatadas por homens imparciais e, ainda, dotados da frieza e competência, indispensáveis a dar tais experiências a corroboração da autoridade de que desfrutam.

O Sr. Aksakof fez com o médium Eglinton uma série delas, em que as mais minuciosas precauções foram tomadas, o que lhe facultou chegar a resultados absolutamente inatacáveis, do ponto de vista científico. O avultado número de matérias, de que temos de tratar, nos obriga, com muito pesar nosso a remeter o leitor às obras originais, onde esses casos se encontram longamente expostos. Serão consultadas com proveito: Animismo e Espiritismo, de Aksakof ; Ensaio e Espiritismo Científico, de Metzger; Depois da Morte, de Léon Denis e Psiquismo Experimental, de Erny.

Aqui, agora, nos limitaremos a apresentar alguns dados geralmente desconhecidos sobre a célebre Katie King, cuja existência foi posta fora de dúvida pelos trabalhos, que se tornaram clássicos, de William Crookes, consignados em seu livro: Pesquisas Experimentais sobre o Espiritismo. Servir-nos-emos dos estudos que na Revue Spirite[1][1] publicou a Sra. De Laversay, resumindo o mais possível essa interessante tradução da obra de Espes Sargent, editada em Boston, no ano de 1875.

Muitas pessoas, poucas a par da literatura espírita, supõem que o espírito de Katie King só foi examinado por William Crookes. Vamos mostrar que há elevadíssimo número de atestados relativos à sua existência, procedentes de testemunhas bastante conhecidas no mundo literário e científico. Quando o ilustre químico teve de verificar a mediunidade da Srta. Cook, já muito tempo havia que Katie se materializava. Os grandes médiuns, por demais raros, não se revelam de improviso. Faz-se necessário certo tempo para que cheguem a produzir fenômenos físicos. Por um lado, o médium, precisa de adestramento, e, por outro, o espírito que dirige as manifestações é obrigado a exercitar-se longo tempo, para manipular, com a indispensável exatidão, os fluídos sutis que tem de empregar.

Em 1872, contava a Srta. Cook dezesseis anos. Desde a mais tenra idade via espírito e ouvia vozes, mas, somente ela observava esses fenômenos, seus pais nenhuma confiança depositavam em suas narrativas. Depois de haver ela assistido a algumas sessões espíritas, veio-se a saber que a mocinha era médium e que obteria as mais belas manifestações. Entretanto, depois de assediados pelos espíritos, resolveram ceder aos desejos dos atores invisíveis e foi então que se deram fenômenos absolutamente probantes.

A 21 de abril de 1872, diz o Sr. Harrison, no Jornal The Spiritualist, ocorreu um curioso incidente. Ouviram de súbito bater nos vidros de uma janela; aberta esta, ninguém viu coisa alguma. Fez-se, porém, ouvir a voz de um espírito, dizendo: “Sr. Cook, precisa mandar limpar as suas calhas, se não quiser que os alicerces de sua casa sejam abalados. As calhas estão entupidas”. Muito surpreendido, procedeu ele a um exame imediato. Era exato! Chovera e o pátio da casa estava cheio de água que transbordara das calhas. Ninguém sabia deste acidente, antes que o espírito o houvesse revelado daquela forma notável. Acompanhando-se a marcha da mediunidade da Srta. Cook, observa-se o desenvolvimento de uma série de fenômenos, que se produzem, sucessivamente, tornando-se cada dia mais espantoso até chegarem à materialização de Katie. Ocorreu assim a primeira sessão em que ela se mostrou.

Até então, as sessões se haviam realizado no escuro. Querendo remediar a isso, o Sr. Harrison fez muitos ensaios em casa do Sr. Cook com luzes diferentes. Conseguiu uma luz fosforescente, aquecendo uma garrafa revestida interiormente de uma camada de fósforo misturada com óleo de cravo. Graças a esse engenho, podia-se ver o que se passava durante a sessão às escuras. A vinte e dois de maio de 1872, a Sra. Cook, seus filhos, uma tia destes e a criada se reuniram e o espírito de Katie King se materializou parcialmente. A srta. Cook não estava a dormir como o faz certa, uma carta que ela no dia seguinte dirigiu ao Sr. Harrison nestes termos:

"Ontem à noite, Katie King nos disse que tentaria produzir alguns fenômenos, mas se concordássemos em armar um gabinete escuro com o auxílio de cortinas. Acrescentou que precisava que lhes déssemos uma garrafa de óleo fosforescente, visto não lhe ser possível tomar de mim o fósforo necessário devido ao fraco desenvolvimento de minha mediunidade. Ela quer iluminar sua figura, para se tornar visível.

"Encantada com a idéia, eu fiz os preparativos necessários, ficando tudo pronto ontem à noite, as oito e meia. Minha mãe, minha tia, os meninos e a criada sentaram-se fora, nos degraus da escada. Deixaram-me sozinha na sala de jantar, o que nada me agradou, porque estava com muito medo.

"Katie mostrou-se na abertura das cortinas. Seus lábios se moveram, e, por fim conseguiu falar. Conversou durante alguns minutos com a mamãe. Todos puderam ver-lhe o movimento dos lábios. Como eu, do lugar onde estava, não a visse bem, pedi-lhe que se voltasse para mim. O espírito me respondeu: “Mas, de certo, fá-lo-ei”. Vi então que só estava formada a parte superior do seu corpo, o busto, sendo o resto da aparição uma espécie de nuvem, ligeiramente luminosa.

"Após breves instantes de espera, o espírito Katie King começou por trazer algumas folhas secas de hera, planta que não existe no nosso jardim. Mostrou-se uma figura com a cabeça coberta de uma porção de pano branco. Katie aproximou de seu rosto o frasco e todos percebemos distintamente. Esteve dois minutos e em seguida desapareceu. O rosto oval, aquilino o nariz; vivos os olhos e a boca lindíssima.

"Disse Katie à mamãe que a olhasse bem, pois sabia que tinha um ar lúgubre. Eu, pelo que me diz respeito, fiquei muito impressionada, quando o espírito se aproximou de mim. Emocionadíssima não pude falar, e nem mesmo esboçar um gesto. Da última vez que se apresentou na junção das cortinas, demorou-se uns bons cinco minutos e incumbiu a mamãe de lhe pedir que venha aqui um dia desta semana. Katie King encerrou a sessão, implorando para nós as bênçãos de Deus. Exprimiu a sua alegria por se ter podido mostrar aos nossos olhares".

O Sr. Harrison atendeu a vinte e cinco de abril ao convite de Katie e na sua presença se verificou a segunda sessão de materialização. Ele tomou interessantes notas que publicou depois no seu jornal, The Spiritualist, donde extraímos os tópicos seguintes:

“Testemunho do Sr. Harrison” – Com a minha presença, uma sessão se realizou a vinte e cinco de abril, em casa do Sr. Cook. O médium, Srta. Cook, sentou-se no interior de um gabinete escuro. De tempos a tempos, ouvia-se um ruído de raspagem com unhas. O espírito de Katie segurava um tecido leve, por ela mesma fabricado e no qual procurava recolher em torno do médium, os fluídos necessários à sua materialização completa. Para esse efeito, atritava o médium com o mencionado tecido. Dali a pouco, travou-se em voz baixa, entre o médium e o espírito, o seguinte diálogo:

Srta. Cookie – Vamos Katie, não gosto de ser friccionada assim.

Katie – Não sejas tolinha, tira o que tens na cabeça e olha-me. (E continuava a friccionar).

Srta. Cookie - Não quero. Deixa-me Katie. Já não gosto de ti. Mete-me medo.

Katie – Como és tola. (E não cessava de friccionar).

Srta. Cookie – Não me quero prestar a estas manifestações. Não gosto disso. Deixa-me sossegada.

Katie – És apenas meu médium e um médium é uma simples máquina de que os espíritos se servem.

Srta. Cookie – Pois bem! Se não sou mais do que máquina, não gosto de ser assombrada deste jeito. Vai-te embora.

Katie – Não sejas estouvada.

Vê-se por este diálogo, que a aparição não é o duplo do médium, pois que a vontade consciente da moça se revela em oposição absoluta a do espírito, que se acha na sua presença. A Sra. D’Esperance, outro médium célebre[2][2] , resolveu não mais cair em transe durante as manifestações e o conseguiu, o que mostra a independência da sua individualidade psíquica no curso das aludidas manifestações. O Sr. Harrison, em sessões ulteriores pôde apreciar o desenvolvimento do fenômeno e o descreveu assim:

"A figura de Katie nos apareceu com a cabeça toda envolta num pano branco, a fim, disse ela, “de impedir que o fluído se dispersasse muito rapidamente”. Declarou que apenas o seu rosto se achava materializado. Todos puderam ver-lhe distintamente os traços do semblante. Notamos que tinha fechados os olhos. Mostrava-se durante meio minuto e desaparecia. Depois, disse-me: “Willie, olha como sorrio; vê como falo”. E exclamou: “Cook, aumenta a luz”. Imediatamente isso foi feito e todos puderam observar a figura de Katie brilhantemente iluminada. Tinha uma fisionomia jovem, linda, jovial, olhos vivos, um tanto malicioso. Sua tez já não era mate e imprecisa, como da sua primeira aparição a vinte e dois de abril, porque, explicava ela: “Já sei melhor como devo fazer”. Quando sua figura se apresentou em plena luz, as suas faces pareciam naturalmente coloridas. Todos os assistentes exclamaram: “Vemos-te perfeitamente”. Katie manifestou a sua alegria, estendendo o braço para fora da cortina e batendo na parede com um leque achado ao seu alcance".

As sessões continuaram com bom êxito. As forças de Katie King aumentaram de mais em mais, porém durante longo tempo, ela só conseguiu uma luz muito fraca, enquanto se materializava. A cabeça trazia sempre envolta em véus brancos, porque não a formava completamente, a fim de empregar menor quantidade de fluído e não fatigar a médium. Ao cabo de bom número de sessões, conseguiu mostrar-se em plena luz, com o rosto, os braços e as mãos descobertas.

Naquela época a Srta. Cook permanecia quase sempre acordada, enquanto se achava presente o espírito. Algumas vezes, porém, quando fazia mau tempo ou eram desfavoráveis outras condições, a mocinha adormecia sob a influência espírita, o que aumentava o poder da médium e obstava a que a sua atividade mental perturbasse a ação das forças magnéticas. Depois Katie não mais apareceu sem que a médium estivesse em transe. Realizaram-se algumas sessões para a aparição de outros espíritos, mas essas sessões tiveram que ser efetuadas com muita pouca luz e foram menos perfeitas do que as em que Katie se mostrava. Contudo, verificou-se a aparição de figuras conhecidas, cuja autenticidade ficou comprovada. Apreciaremos daqui a pouco o testemunho da Sra. Florence Marryat, conhecida escritora.

Numa sessão feita a vinte de janeiro de 1873, em Hackney, sua face se transformou, tornando-se, de branca, negra, em poucos segundos, fato que em seguida se reproduziu muitas vezes. Para mostrar que suas mãos não eram movidas mecanicamente, ela fez uma costura na cortina que se havia rasgado. Noutra sessão, a doze de março e no mesmo local, as mãos da Srta. Cook foram atadas, sendo postos selos de cera sobre os nós. Katie King se mostrou então a certa distancia, à frente da cortina com as mãos inteiramente livres.

Como se vê, só ao fim de longas experiências a princípio imperfeitas e que com a continuação foram melhorando, o espírito de Katie King alcançou o desenvolvimento que lhe possibilitou manifestar-se livremente, em plena luz sob forma humana, fora e à frente do gabinete escuro, diante de um círculo de espectadores maravilhados.

A partir desse momento, organizaram-se “controles” muito severos e, somente depois de os terem estudado com todo o rigor possível, foi que o Sr. Benjamim Colleman, o Dr. Gully e o Dr. Sexton proclamaram a realidade daquelas manifestações transcendentes. Tiraram-se à luz do magnésio muitas fotografias de Katie King, estando ela completamente materializada, de pé na sala, sob severíssima fiscalização. Desde os primórdios da mediunidade da Srta. Cook, o Sr. Ch. Blackburn de Manchester, com ponderada liberalidade, lhe fez importante dote que lhe assegurou a subsistência. Assim procedeu ele, tendo em vista o progresso da Ciência. Todas as sessões da Srta. Cook se realizaram gratuitamente.

PRIMEIRAS FOTOGRAFIAS DE KATIE KING

Na primavera de 1873, muitas sessões se realizaram com o fito de obterem-se fotografias de Katie King. A sete de maio tiraram-se quatro com bom resultado. Uma delas foi reproduzida em gravura.

As experiências fotográficas se acham bem descritas na resenha que abaixo transcrevemos, elaboradas depois de uma sessão e assinada com os seguintes nomes: Amélia Corner, Carolina Corner, J. Luxmore, G. Tapp e W. Harrison. Ao começar a sessão tomaram-se as seguintes precauções: a Sra. Corner e sua filha acompanharam a Srta. Cook ao seu quarto, onde lhe pediram que se despisse, a fim de serem examinadas as suas roupas. Fizeram-na envergar um grande roupão de pano cinzento, em substituição ao vestido que despira e depois conduziram-na à sala das sessões, onde lha ataram solidamente os pulsos com as fitas. O gabinete foi examinado em todos os sentidos, após o que a Srta. Cook se sentou dentro dele. As fitas, que lhe ataram os punhos, foram passadas por um anel fixado no assoalho, em seguida por baixo do manto, sendo afinal amarradas a uma cadeira, colocada fora do gabinete. Desse modo, se a médium se movesse, logo perceberiam.

A sessão principiou às seis horas da tarde e durou cerca de duas horas, com um intervalo de trinta minutos. A médium adormeceu logo que se instalou no gabinete e, decorridos poucos instantes, Katie apareceu e se encaminhou para o meio da sala. Também assistiram à sessão a Sra. Cook e seus dois filhos que muito se divertiam a conversar com o espírito.

Consta do livro fotografia número 2 com o seguinte texto:

Uma das 40 fotografias do espírito materializado de Katie King, tendo ao lado o Dr. Gully que a examinou anatomicamente.

Katie vestia de branco. Aquela noite, seu vestido era decotado e de mangas curtas, de sorte que se lhe podiam admirar o maravilhoso pescoço e os belos braços. A própria coifa que, como sempre, lhe envolvia a cabeça estava ligeiramente afastada, deixando ver os seus cabelos castanhos. Os olhos eram grandes e brilhantes, de cor cinzenta ou azul escuro. Tinha a tez clara e rosada, os lábios rosados. Parecia inteiramente viva. Notando o prazer que experimentávamos em contemplá-la assim diante de nós, Katie redobrou os esforços para que tivéssemos uma boa sessão. Depois, quando acabou de “pousar” em frente do aparelho, passeou pela sala, conversando com todos, criticando os assistentes, o fotógrafo e seus dispositivos, completamente à vontade. Pouco a pouco, aproximou-se de nós, animando-se cada vez mais. Apoiou-se ao ombro do Sr. Luxmore, enquanto a fotografavam. Chegou mesmo, uma vez a seguir a lâmpada para melhor iluminar o seu rosto.

Consentiu que o Sr. Luxmore e a Sra. Corner lhe passassem as mãos pelo corpo para se certificar de que trazia apenas um vestido. Depois, divertiu-se em apoquentar o Sr. Luxmore, dando-lhe tapinhas, puxando-lhe os cabelos e tomando-lhe os óculos para com eles mirar os que estavam na sala. As fotografias foram tiradas à luz do magnésio. A iluminação permanente era dada por uma vela e uma lâmpada pequena. Retirada a chapa para a revelação, Katie deu alguns passos, acompanhando o Sr. Harrison a fim de assistir a essa operação.

Outro fato curioso também se deu essa noite. Estando Katie a repousar diante do gabinete, à espera de se colocar em posição de ser fotografada, todos viram aparecer por sobre a cortina um grande braço de homem, nu até a espádua e a agitar os dedos. Katie voltou-se e repreendeu o intruso, dizendo que era muito mal feito vir outro espírito perturbar tudo, quando ela se preparava para lhe tirarem o retrato, e ordenou, que sem demora se retirasse. No dia da sessão, declarou Katie que suas forças desfaleciam. Com efeito, suas forças haviam diminuído tanto que à luz, que penetrava no gabinete para onde se retirara, ela pareceu esvair-se. Todos então a viram achatar-se, destituída totalmente de corpo e com o pescoço tocar o chão. A médium se conservava ligada como no começo.

Chamamos muito particularmente a atenção do leitor para este último pormenor, que mostra, a toda evidência, que a aparição não é um manequim preparado, nem o médium com um disfarce. Sobre esse ponto, outro testemunho probante é o da Sra. Florence Marryat:[3][3]

“Perguntaram um dia a Katie King porque não podia mostrar-se sob uma luz mais forte (Ela só permitia aceso um bico de gás e esse mesmo com a chama muito baixa). A pergunta pareceu aborrecê-la enormemente. Respondeu assim: “Já vos tenho declarado muitas vezes que não me é possível suportar a claridade de uma luz intensa. Não sei por que me isso é impossível; entretanto, se duvidais de minhas palavras, acendei todas as luzes e verei o que acontecerá. Previno-vos, porém, de que, se me submeterdes a essa prova, não mais poderei reaparecer diante de vós. Escolhei”.

“As pessoas presentes se consultaram entre si e decidiram tentar a experiência, a fim de verem o que sucederia. Queríamos tirar definitivamente a limpo a questão de saber se uma iluminação mais forte embaraçaria o fenômeno de materialização. Katie teve aviso de nossa decisão e consentiu na experiência. Soubemos mais tarde que lhe havíamos causado grande sofrimento”.

“O espírito Katie se colocou de pé junto à parede e abriu os braços em cruz, aguardando a sua dissolução. Acenderam-se os três bicos de gás. (A sala media cerca de dezesseis pés quadrados)”.

“Foi extraordinário o efeito produzido sobre Katie King, que apenas por um instante resistiu à claridade. Vemo-la em seguida fundir-se como uma boneca de cera junto de ardentes chamas. Primeiro apagaram-se lhe os traços fisionômicos que não mais se distinguiam. Os olhos enterraram-se nas órbitas, o nariz desapareceu, a testa como que entrou na cabeça. Depois, todos os membros cederam e o corpo inteiro se achatou qual um edifício que se desmorona. Nada mais restava do que a cabeça sobre o tapete e, por fim, um pouco de pano branco que também desapareceu, como se houvessem puxado subitamente. Conservamo-nos alguns momentos com os olhos fitos np lugar onde Katie deixara de ser vista. Terminou assim aquela memorável sessão”.

Com o exercício, o espírito adquirira maior força, pois que William Crookes pôde, a seguir, bater mais de quarenta chapas com auxílio da luz elétrica. Vimos antes que um espírito tentara materializar-se ao mesmo tempo que Katie. É que, com efeito, este último não era o único espírito a mostrar-se. Eis aqui um novo testemunho da Sra. Marryat que, numa aparição que se lhe lançou nos braços, reconheceu uma deformação característica que sua filha apresentava em um dos lábios. Ouçamo-la:

“A sessão se realizou numa pequenina sala da associação, sem móveis, nem tapete. Apenas cadeiras de vime foram colocadas para que pudéssemos estar sentados. A um canto, dependurou-se um velho xale preto, para formar o necessário gabinete, em qual foi posto um coxim para servir de travesseiro à Srta. Cook”.

“Esta, moreninha delgada, de olhos pretos e cabelos anelados, trazia um vestido de merino cinzento, guarnecido de fitas cor de cereja. Informou-me, antes de começar a sessão, que, desde algum tempo, se sentia enervada durante os transes e que lhe acontecia vir adormecida para a sala. Pediu-me então que a repreendesse, tal coisa ainda se desse, e que lhe ordenasse voltar para o seu lugar, como se fora uma criança. Prometi fazê-lo e logo a Srta. Cook se sentou no chão, por trás do xale preto que fazia de cortina. Víamos o seu vestido cinzento, por isso que o xale não chegava até o assoalho. Baixou-se a chama do gás e tomamos assento nas três cadeiras de vime.

“A médium, a princípio, parecia não se sentir à vontade. Queixava-se de que a maltratavam. Decorridos alguns instantes, vimos o xale agitar-se e uma mão aparecer e desaparecer, repetindo-se isso, várias vezes. Apareceu depois uma forma a se arrastar com os joelhos para passar por baixo do xale, acabando por ficar de pé, perfeitamente ereta. A luz era insuficiente para que se lhe reconhecessem os traços fisionômicos. O Sr. Harrison perguntou se quem ali estava era a Sra. Stewart. O espírito abanou a cabeça em sinal negativo. “Quem poderá ser”? Perguntei ao Sr. Harrison.

“- Não me reconhece, minha mãe”?

"Quis lançar-me em seus braços; ela porém me disse: “Fique no seu lugar; irei lá ter”. Momento após, Florence veio sentar-se nos meus joelhos. Tinha soltado os longos cabelos, nus os braços, assim como os pés. Suas vestes não apresentavam forma determinada. Dir-se-ia estar envolta em alguns metros de musselina. Por exceção esse espírito não trazia coifa; estava com a cabeça descoberta.

“- Minha querida Florence, exclamei, és mesmo tu”?

“- Aumentem a luz, respondeu ela, e olham a minha boca”.

“Vimos então, distintamente, num de seus lábios a deformação com que nascera e que os médicos, que a examinaram, haviam declarado constituir uma caso muito raro. Minha filha viveu apenas alguns dias. Na sessão em que se me apresentava parecia contar dezessete anos”.

Diante dessa inegável prova de identidade, fiquei banhada em lágrimas, sem poder dizer palavra”.

“A Srta. Cook estava muito agitada por detrás do xale e, logo de súbito, correu para nós exclamando”: “É demasiado, já não posso mais”.

“Vimo-la então fora do gabinete, ao mesmo tempo em que o espírito de minha filha sentado no meu colo. Isso porém durou apenas um instante. A forma que eu abraçava, se lançou para o gabinete e desapareceu. Lembrei-me então que a Srta. Cook me pedira que eu a repreendesse caso viesse andar pela sala. Repreendi-a, pois, severamente. Ela tornou ao seu lugar no gabinete e logo o espírito voltou junto de mim dizendo: “Não deixes que ela volte; causa-me um medo horrível”.

“Retruquei-lhe: “Mas Florence, nós outros, mortais, neste mundo, temos medo das aparições e tu, ao que parece, tens medo de tua médium”!

“Tenho medo que ela me faça partir”, respondeu ela. A Srta. Cook, porém não tornou a sair do gabinete e Florence esteve mais algum tempo conosco. Lançou-me os braços ao pescoço e me beijou repetidas vezes. Nessa época, eu me achava muito atribulada. Disse-me Florence que, se pudera aparecer-me com a marca que me permitira reconhecê-la, fora bem para me convencer das verdades do Espiritismo, no qual eu encontraria copiosas fontes de consolo.

“__Tu algumas vezes duvidas, minha mãe, disse ela, e supões que os teus olhos e os teus ouvidos te enganam. Nunca mais deves duvidar e não creias que, como espírito, eu me conserve desfigurada. Retomei hoje este defeito apenas para melhor te convencer. Lembra-te de que estou sempre contigo”.

“Eu não conseguia falar, tão emocionada me sentia à idéia de que tinha em meus braços a filha que eu própria depositara num caixão, de que ela não estava morta, de que presentemente era uma mocinha. Fiquei muda, com os braços passados pela sua cintura, com o coração a bater de encontro ao seu. Em seguida, a força diminuiu. Florence me deu o último beijo, deixando-me estupefata e maravilhada com o que se passara”.

Acrescenta a Sra. Florence Marryat que tornou a ver aquele espírito muitas vezes em outras sessões e com diferentes médiuns, recebendo ótimos conselhos.

Facilmente se concebe que os incrédulos hajam negado com obstinação tão extraordinários fenômenos. Calorosas polêmicas se travaram, mesmo entre os espíritas, e só as experiências e as afirmações de William Crookes puderam confirmar a autenticidade absoluta de Katie King. Recomendamos ao leitor a obra desse sábio; todavia precisamos assinalar, de modo especial, que Katie é um ser vivo em tudo semelhante, anatomicamente, a um ser vivo.

AS EXPERIÊNCIAS DE CROOKES

"São particularmente interessantes os trabalhos do grande sábio inglês do ponto de vista em que nos colocamos[4][4], pelo que reproduzimos aqui uma pequena parte da sua narrativa, tão completamente probante ela é. Ele nos mostra um espírito tão bem materializado, que não se poderia distinguí-lo de uma pessoa normal.

“Essa notável experiência estabelece pertinentemente, que o perispírito reproduz não só o exterior de uma pessoa, mas também todas as partes internas do seu corpo”.

“Uma das mais interessantes fotografias é a em que estou de pé ao lado de Katie, tendo esta um pé nu em determinado ponto do assoalho. Em seguida vesti a Srta. Cook tal qual estava Katie e nos colocamos, ela e eu, na mesma posição em que estivéramos Katie e eu, e fomos fotografados pelas mesmas objetivas, situadas estas absolutamente como na outra experiência e iluminadas pela mesma luz. Superpostas as duas fotografias, as minhas imagens coincidem exatamente quanto ao talhe, etc., ao passo que a de Katie se mostra maior, de uma meia cabeça, do que a da Srta. Cook, junto de quem aquela parece uma mulher gorda. Em muitas das fotografias, o tamanho de seu rosto, e a sua corpulência diferem essencialmente dos de seu médium, podendo-se ainda notar muitos outros pontos de dessemelhança”.

"Isto responde à objeção, tantas vezes formulada, de que, nas sessões espíritas, as aparições, que se fotografam, são desdobramentos do médium. Continuemos:

“Recentemente vi Katie tão bem, à claridade da luz elétrica, que se me torna fácil acrescentar mais algumas diferenças às que, em precedente artigo, assinalei entre ela e seu médium. Tenho a mais absoluta certeza de que a Srta. Cook e Katie são duas individualidades distintas, pelo menos quanto aos corpos. Pequenas marcas que em grande número se encontram no rosto da Srta. Cook não existem no de Katie. Os cabelos daquela são de um castanho tão escuro que parecem pretos! Tenho sob os meus olhos uma madeixa que Katie permitiu que eu lhe cortasse da luxuriante cabeleira, depois de meter nesta os meus próprios dedos até o alto da cabeça e de me haver certificado de que ela daí nascia realmente. É de um lindo castanho dourado”.

“Uma noite contei as pulsações de Katie. Eram em número de setenta e cinco e seu pulso batia regularmente. As da Srta. Cook chegaram, alguns minutos após a noventa, algarismo que lhe era habitual. Aplicando o ouvido ao peito de Katie, pude ouvir-lhe o coração bater no interior, sendo os seus batimentos mais regulados do que os do coração da Srta. Cook, quando, depois da sessão, ela me permitiu fazer a mesma experiência. Auscultados de igual modo, os pulmões de Katie se revelaram mais sãos do que os de sua médium, porquanto, no momento em que fiz a experiência, A Srta. Cook estava em tratamento de um grande resfriado”.

“Tais as primeiras manifestações de Katie King. Eis agora o que se passou da última vez que ela aparece, achando-se entre os espectadores a Sra. Florence Marryat, o Sr. Tapp, William Crookes e a doméstica Mary[5][5]”.

A ÚLTIMA SESSÃO 


“Às sete horas e vinte e três minutos da noite, o Sr. Crookes conduziu a Srta. Cook para o gabinete escuro onde ela se deitou no chão, com a cabeça sobre um travesseiro. Às sete horas e vinte e oito minutos Katie falou pela primeira vez e as sete horas e trinta minutos mostrou-se fora da cortina e em toda a sua estatura. Estava vestida de branco, de mangas curtas e pescoço nu. Trazia soltos os seus longos cabelos castanho claro, de tom dourado, a lhe caírem e, cachos até a cintura. Também trazia um longo véu branco que apenas uma ou duas vezes abaixou sobre o rosto, durante a sessão”.

“O médium trajava um vestido de merino azul claro. Durante quase toda a sessão, Katie se conservou de pé diante dos assistentes. Corrida que fora a cortina do gabinete, todos viam distintamente o médium adormecido, com o rosto coberto por um xale vermelho, para preservá-lo da luz. Não deixara a posição que havia tomado desde o começo da sessão, que transcorreu com uma luz que espalhava a claridade. Katie falou de sua próxima partida e aceitou um ramo de flores que o Sr. Tapp lhe trouxera, bem como um apanhado de lírios que o Sr. Crookes lhe ofereceu. Pediu ao Sr. Tapp que desmanchasse o ramo e colocasse diante dela as flores, no chão. Sentou, então, à moda turca e pediu que todos fizessem o mesmo, ao seu derredor. Distribuiu as flores, fazendo com algumas um raminho, que atou com uma fita azul”.

“Escreveu cartas de adeus a alguns dos seus amigos, pondo-lhes a assinatura: Annie Owen Morgan, dizendo que fora este o seu verdadeiro nome na vida terrena. Escreveu também uma carta ao seu médium e escolheu um botão de rosa para lhe ser entregue como presente de despedida. Pegou uma tesoura, cortou uma mecha de seus cabelos e ofereceu certa porção deste a cada um. Enfiou depois o braço no do Sr. Crookes e deu volta à sala, apertando a mão de todos, um por um. Sentou-se de novo, cortou vários pedaços do seu vestido e do seu véu, presenteando com eles os assistentes. Como fossem visíveis os grandes buracos que lhe ficaram nas vestes e estando sentada entre o Sr. Crookes e o Sr, Tapp, alguém lhe perguntou se poderia reparar aqueles estragos, como já o fizera em outras ocasiões. Ela então expôs à luz a parte cortada, bateu em cima com uma das mãos e imediatamente aquela parte do vestido se tornou tão perfeita como era antes. Os que lhe estavam próximos examinaram e tocaram, com a sua permissão, a fazenda e afirmaram que não havia mais buracos, sem costuras, nem aposição de qualquer remendo onde momentos antes tinham visto cortes do diâmetro de muitas polegadas”.

“Transmitiu a seguir suas últimas instruções ao Sr. Crookes e aos outros amigos sobre como deviam proceder com relação às manifestações ulteriores que prometera, com o auxílio de seu médium. Essas instruções foram cuidadosamente anotadas e entregues ao Sr. Crookes. Parecendo então fatigada, Katie dizia com tristeza que precisava ir-se embora, que sua força decaía. Reiterou muito afetuosamente seus adeuses a todos e todos lhe agradeceram as maravilhosas manifestações que lhes havia proporcionado”.

“Dirigindo a seus amigos, um último olhar, grave e pensativo, desceu a cortina e tornou-se invisível. Ouviram despertar o médium, que lhe respondeu: “Minha querida, não posso. Está cumprida a minha missão. Deus te abençoe”! E todos ouviram o som de seu beijo de despedida na médium. Logo depois, a Srta. Cook vinha ter com os presentes, inteiramente e profundamente consternada”.

“Vê-se assim quanto a moça, rebelde a princípio, se afeiçoara à sua amiga invisível. Katie dizia que dali em diante não mais poderia falar nem mostrar-se; que, realizando por três anos, aquelas manifestações físicas, passara vida bem penosa, para expiar suas faltas; que decidira elevar-se a um grau alto da vida espiritual; que só a longos intervalos poderia corresponder-se por escrito com a sua médium, mas que esta poderia vê-la sempre, por meio da lucidez magnética”.

Termino aqui a transcrição das aparições e materializações de Katie King, feita de dezessete páginas do importante livro de Gabriel Delanne “A alma é imortal”. Quem desejar conhecê-la não apenas neste resumo, porém bem mais ampliada, poderá fazê-lo lendo a citada obra de Crookes, traduzida para o português sob o título de “Fatos Espíritas” ou ainda a “História das aparições de Katie King”, no total de oitenta e sete páginas, publicada pela Federação Espírita Brasileira, juntamente com o trabalho do Conselheiro Alexandre Aksakof intitulado “Um caso de desmaterialização parcial do corpo de um médium”.

Depois desta transcrição, pergunta-se ao leitor: a jovem médium Florence Cook, enganou mesmo durante três anos seguidos, por sedução e fraude, Sir William Crookes, bem como os seus companheiros de experiências, como afirma gratuitamente, o escritor francês Robert Tocquet, que nunca esteve presente a nenhuma das experiências feitas, ou as experiências foram reais? Quem tem, pois, razão: o espírita que sempre busca a verdade, seja qual ela for, ou o parapsicólogo, antiespírita, que torce a verdade, seja qual ela for? Cremos, sem a menor sombra de dúvida, que o leitor está conscientemente a favor do espírita. Quantos belos casos de materialização têm narrado as revistas e os jornais espíritas de todo o Brasil!

O prof. Charles Richet, que viveu na mesma época que Crookes, o que já não aconteceu com René Sudre, Robert Amadou, Robert Tocquet e outros, assim se expressa no seu famoso “Tratado de Metapsíquica” (P. 56 da edição brasileira da LAKE): “Mas o respeito pelas idéias tradicionais era já coisa de idolatria, a ponto tal que ninguém se dava o trabalho nem de estudar nem de refutar. Contentava-se com o rir e confesso que, por vergonha minha, estava eu também entre os cegos voluntários. Sim! /eu ria, em vez de admirar o heroísmo do grande sábio que ousava apregoar, em 1872, que há espíritos, que se pode ouvir o bater do seu coração, bem como tirar-lhe fotografias. Mas essa coragem foi sem grandes conseqüências imediatas. Devia produzir os seus frutos mais tarde. E somente hoje que se pode compreender bem Crookes, cujas experiências são ainda agora a base de toda a Metapsíquica objetiva. Foi feita com granito, nenhuma crítica pode abalá-la. Nos últimos dias de sua gloriosa e laboriosa vida, dizia Crookes ainda que nada tinha a retratar com relação ao que outrora havia afirmado”.

Quem foi Charles Richet que assim se pronunciava a respeito das experiências de Crookes? Para não recorrer a notas biográficas de fonte espírita, recorro ao mesmo dicionário supracitado, (página 1586), por onde se fica sabendo que ele foi um médico e fisiologista francês, que viveu de 1850 a 1935 e que foi autor de trabalhos notáveis dentro e fora de sua especialidade. No domínio da fisiologia devem-se a Richet trabalhos clássicos sobre o calor animal e a anafilaxia; no da psicologia, pesquisas sobre a hipnose e fenômenos metapsíquicos. Vários outros campos de estudo foram também cultivados por este cientista de insaciável curiosidade intelectual. Recebeu o Prêmio Nobel da Medicina em 1913”.

Dizemos ainda que Richet foi também o autor de “O Sexto Sentido” e de “A Grande Esperança” e que só no fim de sua vida, em carta dirigida a Bozzano, se confessou vencido pela evidência dos fatos da sobrevivência, carta esta estampada na página 114 do belo trabalho do Dr. Sérgio Valle “Silva Mello e os seus mistérios” e que eu mesmo li na íntegra no nº 30 de maio de 1936 do Psychic News de Londres.

Passo conforme prometi, à tradução do trabalho do Dr. Paul Gibier, médico francês de renome, sob o título de “Materializações de espíritos em proporções normais” (título que acresci para confrontar com o que se lhe segue) e ao do Prof. Ernesto Bozzano intitulado “Materializações de Espíritos em proporções minúsculas” em que cai por terra a hipótese de que os espíritos são apenas o desdobramento dos médiuns de que se originam.

Como fantasma, sinônimo de espírito ou alma em sua significação etmológica, é espectro, sombra, visão medonha e outras coisas mais, conforme nos ensina o Prof. João Teixeira de Paula, na sua “Enciclopédia de Parapsicologia, Metapsíquica e Espiritismo”, vol. I, página 113, de 1972, preferimos o termo espírito, mais significativo, à fantasma nestas traduções.

Procedi ao trabalho do Dr. Gibier de sua biografia e o do Prof. Bozzano de sua autobiografia.

Dois verdadeiros sábios.

[6][1] Revue Spirite: “História de Katie King” pela Sra. De Laversay, de março a outubro de 1897.

[7][2] Sra, d’Esperance – Shadowland (No país das sombras).

[8][3] Florence Marryat: There is no death (não há morte).

[9][4] Vide Researches on the phenomena of Spiritualism (Pesquisas sobre os fenômenos do Espiritismo)

[10][5] The Spiritualist de 29 de maio de 1874