Saiba como surgiu o “O Livro Dos Espíritos” de Allan Kardec

Em meados do século 19, Allan Kardec começou a se reunir com médiuns para conhecer o método de comunicação com os espíritos e as informações que eles traziam. Aos poucos, começou a introduzir questões filosóficas, como, por exemplo, a regras do plano espiritual; entre outros assuntos.

No texto abaixo, retirado do livro “Biografia de Allan Kardec", pag. 40 a 44 (autor Henri Sausse, FEB), o autor descreve este momento de transição que acabou por gerar um dos livros mais importantes da humanidade – “O Livro dos Espíritos”.

 

"Até então, diz ele próprio (Allan Kardec), as sessões em casa do Sr Baudin não tinham tido nenhum fim determinado. Tentei lá obter a resolução dos problemas que me interessavam, do ponto de vista da Filosofia, da Psicologia e da natureza do mundo invisível. Levava para cada sessão uma série de perguntas preparadas e metodicamente dispostas. Eram sempre respondidas com precisão, profundeza e lógica. A partir de então, as sessões assumiram caráter muito diversa. Entre os assistentes contavam-se pessoas sérias, que tomaram por elas vivo interesse e, se me acontecia faltar,ficavam sem saber o que fazer. As perguntas fúteis haviam perdido, para a maioria, todo atrativo.  Eu, a princípio, cuidara apenas de instruir-me; mais tarde, quando vi que aquilo constituía um todo e ganhava as proporções de uma doutrina, tive a ideia de publicar os ensinos recebidos, para instrução de toda gente.  Foram aquelas mesmas questões que, sucessivamente desenvolvidas e completadas, constituíram a base de O Livro dos Espíritos.

Em 1856, o Sr. Rivail (Allan Kardec) frequentou as reuníões espíritas que se realizavam à rua Tiquetone, em casa do Sr. Roustan, com a Srta.Japhet, sonâmbula, que obtinha como médium comunicações muito interessantes, com o auxílio de uma cesta de bico; fez examinar por esse médium as comunicações obtidas e postas em ordem precedentemente.  Esse trabalho foi efetuado a princípio nas sessões ordinárias; mas, a pedido dos Espíritos, e para que fosse consagrado mais cuidado, mais atenção a esse exame, ele foi continuado em sessões particulares.

 Não me contentei, no entanto, com essa verificação, diz Allan Kardec; os Espíritos assim me haviam recomendado.

Tendo-me as circunstâncias posto em relação com outros médiuns, sempre que se apresentava ocasião, eu a aproveitava para propor algumas das questões que me pareciam mais espinhosas. Foi assim que mais de dez médiuns prestaram concurso a esse trabalho. Da comparação e da fusão de todas as respostas coordenadas, classificadas e muitas vezes retocadas no silêncio da meditação, foi que elaborei a primeira edição de O Livro dos Espíritos entregue à publicidade em 18 de abril de 1857.

 

Esse livro era em formato grande, in-4, em duas colunas, uma para as perguntas e outra, ao lado, para as respostas. No momento de publicá-lo, o autor ficou muito embaraçado em resolver como o assinaria, se com o seu nome - Denizard-Hippolyte-Léon Rivail ou com um pseudônimo. Sendo o seu nome muito conhecido do mundo científico, em virtude dos seus trabalhos anteriores, e podendo gerar confusão, talvez mesmo prejudicar o êxito do empreendimento, ele adotou o partido de o assinar com o nome de Allan Kardec, que, segundo lhe revelou o guia, ele tivera ao tempo dos druidas.

 

A obra alcançou tal sucesso que a primeira edição esgotou-se rapidamente. Allan Kardec a reeditou em 1860, sob a forma atual in-12, revista, corrigida e consideravelmente aumentada.

 

(Observação: A 2ª edição apareceu em março de 1860, a 3ª em agosto de 1860 e a 4ª em fevereiro de 1861, ou seja, três edições em menos de um ano.)

 

No dia 25 de março de 1856 estava Allan Kardec em seu gabinete de trabalho, compulsando as comunicações e preparando O Livro dos Espíritos quando ouviu pancadas repetidas ressoarem na parede; como não descobrisse a causa do fenômeno, voltou ao trabalha. Sua mulher, entrando cerca das dez horas, ouviu os mesmos ruídos; procuraram, mas sem resultado, de onde eles podiam provir. O Sr. e a Sra. Kardec  moravam, então, à rua dos Mártires, nº 8, no segundo andar, ao fundo.

No dia seguinte, como houvesse sessão em casa do Sr. Baudin - escreve Allan Kardec - narrei o fato e pedi que mo explicassem.

 

P - Ouviste, sem dúvida, o relato que acabo de fazer; poderias dizer qual a causa daquelas pancadas, que ouvi com tanta persistência?

 

R. - Era o teu Espírito familiar.

 

R - Com que objetivo ele foi bater daquele modo?

 

R. - Queria comunicar-se contigo.

 

P - Poderias dizer-me quem é ele e o que queria de mim?

 

R. - Podes perguntar a ele mesmo, pois que está aqui.

 

R - Meu Espírito familiar quem quer que sejas, agradeço-te por me teres vindo visitar. Poderias dizer-me quem és?

 

R. - Para ti, chamar-me-ei A Verdade.Todos os meses,durante um quarto de hora, estarei aqui à tua disposição.

 

P. - Ontem, quanto bateste, estando eu a trabalhar, tinhas alguma coisa de particular a me dizer?

 

R. - O que eu tinha a dizer-te era sobre o trabalho que fazias; desagradava-me o que escrevias e quis fazer que o abandonasses.

 

OBSERVAÇÃO - O que eu estava escrevendo dizia respeito, precisamente, aos estudos que fazia acerca dos Espíritos e de suas manifestações.

 

R - A tua desaprovação se referia ao capítulo que eu escrevia ou ao conjunto do trabalho?

 

R. -Ao capítulo de ontem; submeto-o ao teu juízo;  se o releres esta noite, reconhecerás tuas faltas e as corrigirás.

 

P. - Eu mesmo não me sentia satisfeito com esse capítulo e o refiz hoje. Está melhor?

 

R. - Está melhor, mas ainda não satisfaz. Relê da 3ª à 30ª linha e depararás com um grave erro.

 

R - Rasguei o que escrevera ontem.

 

R. - Não importa. Isso não impediu que a falta continuasse. Relê e verás.

 

P. - O nome de Verdade que adotaste, é uma alusão à verdade que procuro?

 

R. -Ta1vez; pelo menos é um guia que te protegerá e ajudará.

 

R - Poderei evocar-te em minha casa?

 

R. - Sim, para te assistir pelo pensamento;  mas, para respostas escritas em tua casa, só daqui a muito tempo poderás obtê-las.

 

P. - Poderias vir com mais frequência, e não apenas de mês em mês?

 

R. - Sim, mas não prometo senão uma vez por mês, até nova ordem.

 

P. - Terás animado na Terra alguma personagem conhecida?

 

R. -]á te disse que, para ti, sou a Verdade; isto, para ti, quer dizer discrição; nada mais saberás a respeito.

 

De regresso a casa, Allan Kardec apressou-se em reler o que escrevera e pôde constatar o grave erro que de fato havia cometida. O intervalo de um mês, que havia sido fixado para cada comunicação do Espírito Verdade,  só raramente foi observada

 

Ele se manifestou frequentemente a Allan Kardec,  mas não em sua casa, onde durante cerca de um ano não pôde este receber nenhuma comunicação por médium algum, pois cada vez que ele esperava receber alguma coisa era impedido por uma causa qualquer e imprevisto que a isso se vinha opor.

 

Foi a 30 de abril de 1856, em casa do Sr. Roustan, pela médium Srta. Japhet, que Allan Kardec recebeu a primeira revelação da missão que tinha a desempenhar. Esse aviso, a princípio muito vago, foi indicado com precisão no dia 12 de junho de 1856, por intermédio da Srta. Aline C., médium. A 6 de maio de 1857, a Sra. Cardonne, pela inspeção das linhas da mão de Allan Kardec confirmou as duas comunicações precedentes, que ela ignorava. Finalmente a 12 de abril de 1860, cm casa do Sr. Dehan, sendo intermediário o Sr. Crozet, médium, essa missão foi novamente confirmada em uma comunicação espontânea, obtida na ausência de Allan Kardec

 

Assim também sucedeu com relação ao seu pseudônimo Numerosas comunicações, procedentes dos mais diversos pontos, vieram reafirmar e corroborar a primeira comunicação obtida a esse respeito." (O Que é o Espiritismo, “Biografia de Allan Kardec", por Henri Sausse, FEB.)