OS QUE COMPREENDEM MAL O ESPIRITISMO

 

   (...) Está provado que o Espiritismo é mais entravado pelos que o compreendem mal do que pelos que não o compreendem absolutamente, e, mesmo, pelos inimigos declarados. E é de notar que os que o compreendem mal geralmente têm a pretensão de o compreender melhor que os outros; e não é raro ver neófitos que, ao cabo de alguns meses, pretendem dar lições àqueles que adquiriram experiência em estudos sérios. Tal pretensão, que denuncia o orgulho, é uma prova evidente da ignorância dos verdadeiros princípios da doutrina.

Contudo, que os espíritas sinceros não desanimem: é o resultado do momento de transição por que vivemos. As ideias novas não podem estabelecer-se de repente e sem obstáculos; como lhes é preciso varrer as ideias antigas, forçosamente encontram adversários que as combatem e as repelem, sem falar nas criaturas que as tomam em sentido contrário, que as exageram ou desejam acomodá-las a seus gostos e opiniões pessoais. Mas chega o momento em que as ideias contraditórias caem por si mesmas, uma vez conhecidos e compreendidos os verdadeiros princípios pela maioria. Já vedes o que sucedeu com todos os sistemas isolados, surgidos na origem do Espiritismo; todos caíram ante a observação mais rigorosa dos fatos, ou só ainda encontram alguns desses partidários tenazes que, em tudo, se aferram às suas ideias primitivas, sem darem um passo à frente. A unidade se fez na crença espírita com muito mais rapidez do que se esperava. É que os Espíritos, em todos os pontos, vieram confirmar os princípios verdadeiros, de sorte que hoje, entre os adeptos do mundo inteiro, há uma opinião predominante que, se ainda não goza da unanimidade absoluta, é, incontestavelmente, a da imensa maioria. Donde se segue que aquele que quiser marchar na contramão desta opinião, encontrando pouco ou nenhum eco, condena-se ao isolamento. Aí está a experiência para o demonstrar.

Para remediar o inconveniente que acabo de assinalar, isto é, para prevenir as consequências da ignorância e das falsas interpretações, é preciso maior empenho na vulgarização das ideias justas e na formação de adeptos esclarecidos, cujo número crescente neutralizará a influência das ideias errôneas.

 

Alocução do Sr. Allan Kardec aos espíritas de Bruxelas e Antuérpia em 1864

 

Livro:  Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos - Ano VII, 1864

            (nº 11 – novembro de 1864)

            Allan Kardec

            FEB - Federação Espírita Brasileira