O Método de Kardec para dialogar (Conversar) com os Espíritos

 

 Método de Kardec para dialogar (Conversar) com os Espíritos

Marcelo Henrique Pereira

 

"Aí foi que iniciei os meus estudos sérios em Espiritismo, menos ainda devido a revelações do que pelas observações. Sujeitei essa nova ciência, como o fazia a tudo, ao método da experimentação; jamais formulei teorias preconcebidas; observava acuradamente, comparava, tirava consequências; procurava, pelos efeitos, atingir as causas através da dedução, pelo encadear lógico dos fatos, não aceitando como válida uma explicação, a não ser quando ela possa resolver as dificuldades da questão. Procedi sempre assim em meus trabalhos anteriores, desde os meus quinze e dezesseis anos. Aprendi, desde o início, a gravidade da exploração que ia realizar. Percebi nesses fenômenos a chave do problema tão obscuro e tão discutido do passado e do futuro, a solução que em toda minha vida andara procurando; em uma palavra, era uma total reviravolta nas ideias e nas crenças, necessário, pois, era agir circunspecta e não levianamente, ser positivista e não idealista, para não permitir que as paixões me arrastassem."

- Kardec, segundo Henri Sausse em "Biografia de Allan Kardec", in O Principiante Espírita, p. 17-18.

 

 

 

I – INTRODUÇÃO

 

Foi aí que, pela primeira vez, presenciei o fenômeno das mesas que giravam, saltavam e corriam em condições tais que não deixavam lugar para qualquer dúvida. Assisti então a alguns ensaios, muito imperfeitos, de escrita mediúnica numa ardósia, com o auxílio de uma cesta. Minhas ideias estavam longe de precisar-se, mas havia ali um fato que necessariamente decorria de uma causa. Eu entrevia, naquelas aparentes futilidades, no passatempo que faziam daqueles fenômenos, qualquer coisa de sério, como que a revelação de uma nova lei, que tomei a mim estudar a fundo.

- Kardec (Obras Póstumas. "A minha iniciação no espiritismo", p. 216).

 

Ao ensejo da comemoração dos 152 anos da Doutrina Espírita, recém-comemorados nestes 18 de abril (1857-2009), focamos nossa atenção para o método de Kardec para dialogar (ou conversar) com os Espíritos, circunstância que, por si só, qualifica a obra do Codificador ao materializar, sob a forma de criteriosa metodologia científica, o trabalho que ele criou, desenvolveu e aperfeiçoou, desde seus primeiros contatos com os fenômenos de natureza espiritual.

 

O debruçar sobre a prática original daquele professor francês, desde os primeiros contatos com os Espíritos até a delimitação da estrutura central do processo de comunicação mediúnica e da análise dos resultados obtidos com a experimentação são, nos dias de hoje, fundamentais tanto para o resgate da cientificidade do método de Kardec quanto para a permanência da proposta filosófica do Espiritismo como uma diretriz para o melhor entendimento das questões que gravitam em torno da vida (física e espiritual) dos homens que habitam a Terra.

 

 

 

II – GENERALIDADES

 

"Entre o nascimento de Denizard e o de Allan Kardec há meio século de distância. Não obstante, são ambos o mesmo espírito, a mesma criatura de Deus, a serviço dos homens na Terra. Duas pessoas distintas, num único espírito verdadeiro. [...] Hoje sabemos, graças ao conhecimento da lei das vidas sucessivas, que um mesmo espírito desempenha o papel de várias pessoas, no plano existencial, no processo natural do seu desenvolvimento, da sua evolução. Kardec é a primeira prova e a primeira confissão pública, universal, dessa verdade tantas vezes revelada e tantas vezes negligenciada pela Humanidade."

- Herculano Pires ("Quem foi Allan Kardec", in Moreil, Vida e obra de Allan Kardec, p. 9).

 

Muitos falam de Kardec. Muitos tentam entender o processo que levou o cético cientista lionês a interessar-se pela fenomenologia mediúnica, entender-lhe os mecanismos e estabelecer, em concurso com os Espíritos Superiores, o conjunto de princípios e fundamentos a que deu, depois, o nome de Doutrina dos Espíritos. Contudo, nem todos conseguem captar o substrato do trabalho hercúleo e solitário do homem Rivail, sobretudo por considerar que a sua continuidade dependeria de uma suposta "autorização" dos espíritos para, em dado(s) momento(s) permitirem eclodissem "novas revelações".

 

Kardec, ou Hipollyte Leon Denizard Rivail (1804-1869), viveu numa época de grande aceleração cultural, pós-idade média, recebendo acurada formação pedagógica sob inspiração de um dos maiores educadores de todos os tempos, Pestalozzi, e tanto se esmerou que o sucedeu em diversas atividades, dedicando-se à Pedagogia por mais de 50 anos, até alcançar o patamar de homem de elevada cultura, intelectual por excelência. Paris era, por sua vez, o cérebro do mundo naqueles dias, um caldo cultural com herança de notáveis homens como Bacon, Descartes e Rousseau. Além disso, vivia-se a intensa realidade do confronto entre a dogmática religiosa e filosófica em contraponto ao desenvolvimento da ciência de observação.

 

O problema do seu tempo era, então, uma questão de método. Como a Ciência (e seus métodos) rejeitavam a realidade espiritual, invisível e, portanto, inverificável, mas os fenômenos espirituais eclodiam a todo instante de modo cada vez mais evidente e inquestionável, Rivail, convencendo-se da existência de forças inteligentes como causa dos fenômenos, criou e desenvolveu um método específico de investigação experimental dos fenômenos espíritas, já que o método das ciências naturais não poderia investigar e demonstrar esta realidade paralela, a da existência do Mundo Espiritual, preexistente e sobrevivente a tudo.

 

Na investigação dos problemas/questões espirituais o método dedutivo teve de ser substituído pelo método indutivo, tendo o Espírito como objeto de investigação. E a base investigatória, que levou às verdades gerais ou universais, foi o processo comunicativo (dos Espíritos com os homens). Toda a descrição da metodologia e do próprio processo comunicativo encontram-se em O Livro dos Médiuns.

 

Método Dedutivo         

É aquele caracterizado quando se parte de uma situação geral e genérica para uma particular.

É o processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não contida nas partes examinadas.

 

Método Indutivo

Destarte, o trabalho do Codificador nunca partiu de ideias pré-concebidas (negações ou afirmações). Utilizou, então, a indução para construir a fundamentação teórica da Doutrina Espírita, no seguinte esquema:

 

 

OBSERVAÇÕES > TEORIZAÇÕES

 

A partir do trabalho de Kardec, a Revelação Espiritual aproximou-se da Revelação Científica, abrindo importantes flancos para a pesquisa experimental que já começam, nos dias de hoje, a se tornar efetivas, na comprovação dos princípios espíritas. Mas, ao contrário do que possa parecer, não é a Ciência material que irá chegar às conclusões espíritas, porquanto seu método não permite divisar realidades além-matéria.

 

Ou, como afirma PIRES (2001: 9), "[...] as pesquisas espíritas não se prendem aos fenômenos em si, ao mundo fenomênico ou material, e por isso mesmo exigem métodos diferentes dos utilizados nas ciências físicas."

 

 

2.1. O que despertou a atenção do homem Rivail

 

"[...] Só acreditarei se vir ou se me provarem que a mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que pode tornar-se sonâmbula. Até então, permita-me que considere isso uma história fabulosa."

- Kardec (Obras Póstumas, "A minha iniciação no espiritismo", p. 215).

 

 

Foi no final de 1854 que o homem Rivail ouviu falar das mesas girantes, por meio de notícias que vicejavam nos jornais e nas rodas sociais de Paris, dando conta do ineditismo e da circunstância de entretenimento – espetáculo quase circense – que envolvia as mesmas. Da repetitividade de sua ocorrência, não havia mais como ficar indiferente e Rivail, pouco a pouco, se viu atraído a comparecer a algum ambiente em que tais fenômenos se produziam, senão com o fito de descobrir-lhes a causa de prestidigitação e ilusionismo. No início de 1855, pela vez primeira, ele ouve falar que algumas pessoas haviam desenvolvido um meio de comunicação com as forças que moviam as mesas e que estas, ao serem perguntadas, teriam respondido serem espíritos.

 

Diz-se que Rivail teria se aproximado dos grupos "espíritas" atendendo a convite de amigos magnetizadores (em especial o Sr. Fortier) e, embora não acreditasse na manifestação de Espíritos, já tinha tido contato com sonâmbulos. Em maio de 1855, Kardec comparece a uma "sessão" com as mesas, na casa de seus amigos Sr. Pâtier e Sra. Plainemaison e, depois, na casa da família Baudin. Incomodado com o caráter de frivolidade de muitos dos questionamentos, resolve propor a organização das reuniões, posto que estava convencido da natureza inteligente que presidia o acontecimento.

 

Diria a si mesmo, reproduzindo esse diálogo íntimo, algum tempo depois, em suas memórias: "Entrevi naquelas aparentes futilidades, no passatempo que faziam daqueles fenômenos, qualquer coisa de sério, como que a revelação de uma nova lei, que tomei a mim mesmo investigar a fundo".

 

Assim, em agosto de 1855, passa a coordenar o estudo sistemático das comunicações produzidas, na casa do Sr. Baudin, utilizando-se de médiuns bastante jovens: Caroline Baudin (16) e Julie Baudin (14). KARDEC (2004: 27), a propósito, sublinha que "O primeiro fato observado foi o movimento de objetos; designaram-no vulgarmente com o nome de mesas girantes ou dança das mesas. Esse fenômeno, que parece ter sido observado primeiramente na América, ou, melhor, que se teria repetido nesse país, porque a História prova que ele remonta à mais alta Antiguidade, produziu-se acompanhado de circunstâncias estranhas como ruídos insólitos e golpes deferidos sem uma causa ostensiva, conhecida. Dali, propagou-se rapidamente pela Europa e por outras partes do mundo; a princípio provocou muita incredulidade, mas a multiplicidade das experiências em breve não mais permitiu que se duvidasse da sua realidade." (Grifos do original.)

 

Eis que as mesas, além de simbolizarem o mero movimento dos objetos (o que, se assim circunscrito, segundo KARDEC (2004: 29), teria ficado restrito ao domínio do entendimento das ciências físicas), passaram a se mover conforme determinadas solicitações dos homens que as observavam, dando determinados golpes, batendo um ou mais pés no chão e "respondendo", por meio de pancadas, a questões específicas que lhe foram sendo feitas. Inicialmente, a convenção era "sim" ou "não", conforme uma ou duas pancadas. Logo a seguir, instituiu-se a correspondência entre as batidas e o alfabeto, formando-se frases e períodos, embora com larga duração de tempo para sua formatação e entendimento. Perguntado sobre sua natureza e identidade, inicialmente, respondeu como sendo "Espírito" ou "Gênio", seguindo-se, daí, ao nome pelo qual era reconhecido.

 

Como ninguém, antes, havia pensado nos Espíritos como explicação para o fenômeno, como atesta o Codificador, "[...] foi o próprio fenômeno que revelou a palavra" (KARDEC, 2004, p. 29).

 

Depois, por sugestão de um desses seres invisíveis, construiu-se uma "engenhoca" que consistia na adaptação de um lápis a uma cesta (ou outro objeto), sobreposta a uma folha de papel: "Vá buscar no quarto ao lado a cestinha; prenda nela um lápis, coloque-a sobre o papel e ponha-lhe os dedos na borda" (KARDEC, 2004, p. 30).

 

Os meios continuavam a evoluir e, como a cesta (ou a prancheta) eram meros apêndices da mão, havendo uma força maior que as colocava em movimento, chegou-se à constatação de que a influência sobre o objeto partia de certas pessoas, com poderes especiais, depois denominadas de médiuns – intermediários. O médium, assim, de posse do lápis e involuntariamente impulsionado e quase febrilmente passou a escrever.

 

2.2. A Dialética Espírita

 

"É, pois, um erro crer que o Espírito pode atender aos chamados que se lhe dirijam e comunicar-se com o primeiro médium que se apresente. Para que um Espírito se comunique é preciso, antes de mais nada, que lhe convenha comunicar-se." - KARDEC (O que é o Espiritismo, p. 50).

 

A inspiração para o competente e dedicado trabalho de Kardec tem raízes na Maiêutica Socrática, fazendo com que a interpelação – livre pergunta sobre todas as coisas – pudesse direcionar o raciocínio para o descortinar de novas verdades. Os Espíritos Superiores ante a provocação das questões propostas por Kardec provocaram no interlocutor, o desejo por saber mais, ou seja, o desenvolvimento de novas indagações nascidas a partir das respostas iniciais.

 

Inicialmente, Rivail preparava com antecedência os temas, desenvolvendo perguntas em sua casa e multiplicando questões sobre os temas (sempre com o intuito de deixar, os temas, o mais claramente expostos possível), os levando, por fim, à residência das Baudin, quando eram propostos aos Espíritos. Todavia, sua estatura moral e cultural permitia (conforme inclusive dito em Obras Póstumas) que ele adaptasse ou reformulasse certas indagações, mentalmente, enquanto determinadas respostas eram dadas, formulando-as, em seguida (KARDEC: 1998, p. 232-233).

 

Há quem diga, inclusive, que a formação cultural e profissional de Kardec, aliada ao somatório de suas experiências anteriores, teria direcionado a escolha pelo método de perguntas e respostas, que consolidou "O Livro dos Espíritos". Decisão, assim, racional e logicamente preparada, para facilitar a compreensão de temas tão complexos.

 

O maior filósofo espírita brasileiro, José Herculano PIRES é muito feliz em tratar da Dialética Espírita, concebida e exercitada a partir do momento em que aquele professor francês resolveu "mergulhar a fundo" nas questões de seu tempo, para descortinar outro horizonte, mais amplo, de natureza espiritual. Diz PIRES (2004: 16): "Nunca houve um diálogo como este. Jamais um homem se debruçou, com toda a segurança do homem moderno, nas bordas do abismo do incognoscível, para interrogá-lo, ouvir as suas vozes misteriosas, contradizê-lo, discutir com ele, e afinal arrancar-lhe os mais íntimos segredos. E nunca, também, o abismo se mostrou tão dócil, e até mesmo desejoso de se revelar ao homem em todos os seus aspectos."

 

E prossegue atestando que Kardec dialogou com todo o mundo invisível, com análise rigorosa das vozes que se manifestavam, entre inferiores e superiores, descobrindo as leis do mundo espiritual, suas formas de vida e o mecanismo de relação daquele com o nosso.

 

E é PIRES (1979: 136-137), novamente, quem pontifica a profundidade da dialética espírita: "Surgindo na era científica, em meados do século XIX, o Espiritismo se opôs, ao mesmo tempo, ao religiosismo alienante e ao materialismo exclusivista. Kardec abriu a brecha espírita nesses maciços milenares, estabelecendo o critério da razão na busca da verdade. Sustentou o princípio dialético da constituição do mundo por dois elementos fundamentais: espírito e matéria. Dessa colocação, válida e confirmada em nossos dias, nasceu a Ciência Espírita, armada com os métodos da pesquisa científica dos fenômenos e com os processos da cogitação filosófica livre de pressupostos e preconceitos."

 

Efetivamente, o diálogo teve Kardec como interlocutor, observador ou selecionador das mensagens, de vez que ele não esteve presente em todos os lugares e situações em que foram recepcionadas as mensagens pela via psicográfica. Vale dizer que o próprio Codificador (2001 [3]: 36) assim se pronunciou, no tocante à recepção das mensagens mediúnicas: "[...] a maioria, foi escrita sob nossos olhos, algumas foram tomadas de comunicações que nos foram dirigidas por correspondentes, ou que recolhemos, por toda parte onde estivemos, para estudá-las".

 

 

2.3. O Método de Kardec

 

"[...] Entrevi, por baixo da aparente futilidade e da espécie de jogo que fazem com esses fenômenos, algo de muito sério e como que a revelação de uma lei, que resolvi investigar a fundo."

- Kardec, conforme Moreil (Vida e obra de Allan Kardec, p.49).

 

Qual seria o método de Kardec? Sobre que bases se estruturava e como era constituído?

 

PIRES (2004: 17-18), com muita propriedade e completude, assim define e caracteriza o "Método de Kardec":

 

1º) Escolha de colaboradores mediúnicos insuspeitos, tanto do ponto de vista moral, quanto da pureza das faculdades e da assistência espiritual;

 

Os médiuns, para Kardec, não eram seres superiores aos demais, com missões específicas, ímpares. Contudo, dentre os médiuns disponíveis, o critério para seleção daqueles que vieram a colaborar decisivamente na obra espírita era o da idoneidade moral, primeiramente. Vencida esta premissa, a da confiabilidade absoluta na isenção do colaborador diante da tarefa, eram verificadas as condições materiais-espirituais de suas faculdades medianímicas, bem como a ascendência dos Espíritos que com eles se comunicavam.

 

2º) Análise rigorosa das comunicações, do ponto de vista lógico, bem como do seu confronto com as verdades científicas demonstradas, pondo-se de lado tudo aquilo que não possa ser logicamente justificado;

 

Kardec (1998: 218) não considerava os espíritos como "reveladores predestinados", mas, de fato, fontes de informação, de modo que, primeiramente, a qualidade da informação estaria vinculada diretamente ao caráter do ser comunicante, visto que a capacidade de explicação de sua realidade espiritual estaria mais ou menos ligadas às crenças que tais criaturas houveram defendido antes da morte, ampliadas pelas percepções decorrentes da condição de vida na Espiritualidade. Por isso, a necessidade premente do filtro das impressões trazidas pelos Espíritos, de modo a não comprometer o edifício que estava, aos poucos, sendo erigido.

 

3º) Controle dos Espíritos comunicantes, através da coerência de suas comunicações e do teor de sua linguagem;

 

Este ponto merece especial destaque, em virtude da possibilidade ilusionista da identificação (assinatura) do Espírito comunicante que, por vezes, assumia a nomenclatura de um indivíduo que tinha sido personalidade importante no mundo físico, apenas para impressionar seus interlocutores. Assim, Kardec publicou, como exemplificação, na parte final de O Livro dos Médiuns ("Comunicações Apócrifas") algumas mensagens "[...] de tal maneira absurdas, embora assinadas por nomes os mais respeitáveis, que o mais vulgar bom senso demonstra a sua falsidade" (2001: 343-349).

 

4º) Consenso universal, ou seja, concordância de várias comunicações, dadas por médiuns diferentes, ao mesmo tempo e em vários lugares, sobre o mesmo assunto."

 

Referido consenso, conceituado como o Consenso Universal dos Ensinos dos Espíritos (CUEE), vem sendo defendido pela porção minoritária do movimento espírita (movimento laico), no sentido de resgate da metodologia de Kardec e da progressividade do Espiritismo, evitando que a divulgação de dadas obras e autores, pós-kardecianos, sobretudo sob a formatação de literatura mediúnica, não assuma o papel principal, sem critério de concordância, apondo enxertias e acréscimos indevidos ao conteúdo fundamental espiritista.

 

Vê-se, aí, as chamadas "linhas gerais da metodologia experimental espírita", que se constitui tanto de procedimentos prévios como concomitantes e posteriores, em nível de acuidade e seriedade, como sói acontecer em qualquer das ciências estabelecidas. Sem tais balizas, corre-se o risco de validar informações inverídicas/inverossímeis quanto cair no ridículo, fazendo afirmações que, muitas vezes, em pouquíssimo tempo, serão desmentidas/desmascaradas em função de novas comunicações espirituais ou o próprio progresso material (científico) da Humanidade.

 

A opção do movimento majoritário, todavia, na contra-mão do que prelecionou, ensinou e exemplificou Kardec, tem sido a de venerar dados espíritos e médiuns, cunhando-os como "quase-oficiais", dando a suas manifestações o caráter de oficialidade, como complementações (assaz perigosas) aos conceitos contidos na Codificação.

 

O CUEE pode ser encarado como uma espécie de "certificado de qualidade", uma "norma de certificação", elemento fundamental para a aferição da boa procedência e da utilidade das comunicações mediúnicas. É, assim, o CUEE, o método científico da produção (e análise) mediúnica.

 

PIRES (2004: 18), por fim, ainda pontua que o método de investigação científica dos fenômenos espíritas não se confunde com o método doutrinário, pois a existência do Espírito e a possibilidade da comunicação (entre vivos e mortos) já está doutrinariamente firmada (demonstrada, estabelecida), enquanto que, até o presente momento, embora com experimentações realizadas em diversas partes do mundo, não há um consenso científico nem sobre a imortalidade da alma nem sobre a comunicabilidade entre os espíritos. Trata-se, pois, ainda, questão de "crença" espírita, embora para os espíritas não restem dúvidas sobre uma e outra.

 

 

2.4. Médiuns mecânicos ou intuitivos?

 

Os médiuns intuitivos "[...] estão muito mais sujeitos a errar, porque frequentemente não podem discernir o que provém dos Espíritos do que é deles mesmos." - Kardec (O Livro dos Médiuns, p. 163).

 

Dentre os chamados "escolhos da mediunidade" figura a maior ou menor interferência do médium no resultado da produção medianímica, com, às vezes, alterações substanciais e substantivas no conteúdo da(s) mensagem(ns). Kardec, a este particular, embora tivesse se valido de um sem-número de comunicações obtidas pelos segundos (intuitivos), sempre preferiu trabalhar diretamente com os primeiros, e a prova disso está em relatos das meninas conversando enquanto a cesta produzia os textos. Em O Livro dos Médiuns (Cap. XVI), Kardec adverte acerca dos riscos da produção intuitiva em face de erros na conceituação e na explicação para certas questões, que não se tem certeza serem egressos dos Espíritos ou dos médiuns.

 

Já na Revista Espírita, Kardec (2001 [3]: 205) elenca pontos considerados relevantes à análise das comunicações, em texto intitulado "Contradições na Linguagem dos Espíritos", descrevendo como causas:

 

"1º. O grau de ignorância ou de saber dos Espíritos aos quais nos dirigimos;

 

2º. O embuste dos Espíritos inferiores que podem, por malícia, ignorância ou malevolência e tomando um nome de empréstimo, dizer coisas contrárias às que alhures foram ditas pelo Espírito cujo nome usurparam;

 

3º. As falhas pessoais do médium, que podem influir sobre as comunicações, alterar ou deformar o pensamento do Espírito;

 

4º. A insistência por obter uma resposta que um Espírito recusa dar, e que é dada por um Espírito inferior;

 

5º. A própria vontade do Espírito, que fala conforme o momento, o lugar e as pessoas e pode julgar conveniente nem tudo dizer a toda gente;

 

6º. A insuficiência da linguagem humana para exprimir as coisas do mundo incorpóreo;

 

7º. A interpretação que cada um pode dar a uma palavra ou a uma explicação, de acordo com as suas ideias, os seus preconceitos ou o ponto de vista sob o qual encara o assunto."

 

Premissas essas que, se bem seguidas e respeitadas in totum pelas instituições espíritas, já nos teriam deixado livre da indigência mediúnica, isto é, a completa subserviência do movimento a dados espíritos, tidos como "oficiais" e "complementares" a Kardec, quanto aos médiuns (pessoas respeitáveis e idôneas, em sua maioria, é claro), considerados indevidamente como infalíveis e "mensageiros escolhidos" para tal mister.

 

 

2.5. A redação e a publicação de O Livro dos Espíritos.

 

"O Livro dos Espíritos registrou por escrito a doutrina filosófica do espiritismo, enquanto que O Livro dos Médiuns constituiu a sua parte experimental. Tais são os dois livros básicos do espiritismo de qualquer tempo e Allan Kardec, apesar de sua modéstia, não hesitou em recomendar o seu estudo incessante." - Moreil (Vida e obra de Allan Kardec, p. 126).

 

Caroline Baudin foi a médium que mais participou das sessões de produção espiritista, nestes dias iniciais, inicialmente pela psicografia indireta (uso da corbelha), depois pela via direta. Durante dezoito meses, trabalharam incessantemente, Caroline e Rivail, com participação decisiva da Srta. Ruth Celine Japhet, que atuou como "médium revisora", quando os Espíritos resolveram verificar tudo, em sessões privativas (isto é, sem a presença do público que havia comparecido às outras sessões) o que havia sido composto (inclusive o material enviado por cerca de dez médiuns distintos, distantes de Kardec, por via postal), para a publicação inicial, em 18.04.1857. O trabalho revisional ainda perduraria, levando o Codificador a lançar a segunda edição (definitiva) da obra primeva, agora com 1.019 questões (contra as 501 ou 550 da edição inicial), em março de 1860, utilizando-se, inclusive da Revista Espírita como o laboratório de maturação de muitas ideias, depois consolidadas naquela obra, inclusive com a participação de outra médium, Ermance Dufaux, que Rivail conhecera no lançamento da primeira edição do livro-base, e que passou a colaborar, principalmente na produção da Revista Espírita.

 

 

2.6. O Advento de O Livro dos Médiuns.

 

"Publicado em 1861, O Livro dos Médiuns constitui a continuação lógica de O Livro dos Espíritos. Se este lança os fundamentos teóricos da doutrina, aquele, ao contrário, como seu nome indica, trata das consequências práticas da teoria." - Moreil (Vida e obra de Allan Kardec, p. 137).

 

Depois de firmar, sob bases sólidas, o conjunto de princípios ou fundamentos do Espiritismo, Kardec debruçou-se sobre a parte prática, técnico-científica (fenomênica), tratando de cunhar o primeiro Tratado de Mediunidade que se tem notícia na história.

 

Afinal, era preciso, no âmbito da experimentação espiritista, fixar as premissas, as argumentações, o desenvolvimento das explicações para os fatos (objeto da Ciência Espírita), bem como as refutações necessárias, que surgiriam de parte da Ciência Acadêmica (sob o império do Materialismo, histórico e dialético) e das religiões tradicionais.

 

Muito antes de iniciar a sua pesquisar, o estudioso escolhe o objeto a ser pesquisado, de vez que sem um objeto definido, claro e preciso, não pode haver qualquer pesquisa séria e conclusiva. E foi isso o que Kardec fez. Ao se propor a empreender suas observações iniciais (na casa da família Baudin), estabeleceu como objeto de estudo e investigação o mundo espiritual, o habitat dos Espíritos (e sua correlação com o mundo material. Há quem diga, até, que este objeto era extenso demais, em razão do universo a ser descortinado, ou assaz ambicioso.

 

É com O Livro dos Médiuns, este Tratado Superior de Fenomenologia Paranormal, verdadeiramente, que Kardec dá esse passo além.

 

Conforme PIRES (2001: 8), esta obra "[...] É um tratado que tem por fundamento a pesquisa científica e a experiência, além da contribuição teórica dos Espíritos na explicação de vários problemas ainda inacessíveis à pesquisa científica. Essas explicações só foram aceitas por Kardec na medida de sua racionalidade, de acordo com o método de controle rigoroso que estabeleceu para o seu trabalho. Esse método é explicado neste livro e pode ser examinado em minúcias nos relatórios e registros de sessões publicadas na Revista Espírita."

 

Por fim, para entender as detalhadas nuances do método aplicado por Kardec, recomendamos a leitura do Capítulo III d’O Livro dos Médiuns, ("Do Método"), de observância obrigatória àqueles que pretendam realizar, em nosso tempo, a continuidade das pesquisas espíritas, na forma da experimentação mediúnica.

 

 

2.7. A Revista Espírita como o laboratório permanente.

 

Kardec trabalhou incessantemente, de 1855 a 1869, totalizando quase 14 anos de trabalho de pesquisa e experimentação. Mas o seu laboratório permanente foi a Revista espírita, espaço onde publicou novos experimentos, a análise de produções mediúnicas e, também, pôde relatar suas atividades "doutrinárias" como viagens, palestras e a correspondência trocada com inúmeras pessoas.

 

RIZZINI (2001, p. 221) destaca em seu livro biográfico sobre Herculano Pires o cuidado que este teve com a apresentação e organização, após criteriosa tradução, dos doze volumes da Revue, destacando a própria opinião do filósofo paulista a esse respeito:

 

"Podemos acompanhar nestas páginas, passo a passo, o esforço ao mesmo tempo grandioso e minucioso de Kardec na construção metódica da Doutrina e na estruturação do movimento espírita. A História do Espiritismo se nos apresenta, assim, como uma forma de vivência que se autofixou na escrita. [...] Nada se oculta ao leitor. Os problemas, as preocupações de Kardec, suas lutas dentro e fora do meio espírita, suas vitórias tranquilas, sua resistência à calúnia, à mentira, à difamação, sua fé inabalável, tudo isso palpita nessas páginas e nos dá a impressão de vivermos ao lado do Codificador na sua época."

 

 

 

III. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

"Desde 1857, quando foi publicado O Livro dos Espíritos, até hoje, nenhum dos princípios do Espiritismo foi desmentido pela Ciência ou pela Filosofia. Pelo contrário, todos eles têm sido sistematicamente confirmados por ambas. Quanto à Religião, nunca teve condições para contradizer o Espiritismo de maneira positiva, tentando sempre fazê-lo de maneira autoritária ou dogmática, sempre no interesse particular dos princípios de cada seita."

PIRES (A Pedra e o Joio, p. 8).

 

A questão metodológica do Espiritismo é, por assim dizer, essencial e inafastável, como o é nas demais áreas do conhecimento humano. Quando Kardec empreendeu os sérios, dedicados, exaustivos e coordenados esforços para delimitar a Ciência Espírita (com objeto, método e objetivos próprios, distintos, pois, de qualquer outra ciência), fundou os alicerces pelos quais a pesquisa e a prática espíritas teriam que se basear, para serem consideradas espíritas.

 

Nada obsta, no entanto, que as pessoas, ao conceberem uma metodologia distinta da de Kardec, cunhem doutrinas ou sistemas filosófico-científicos que possam subsistir, havendo interesse em sua manutenção e desenvolvimento. Mas serão tudo, menos Espiritismo.

 

Há muitos companheiros que, sem ter estudado detalhadamente o conteúdo completo de Kardec, apressam-se em defender teorias e obras reformistas no campo do Espiritismo ou, até, afiançam que certos ramos das Ciências atuais superaram a posição espírita, ou, ainda, supõem que suas experiências pessoais (corriqueiras, desatentas e sem qualquer obediência às básicas exigências metodológicas), possam abrir novos caminhos à pesquisa espírita.

 

Ledo engano!

 

O que precisamos, verdadeira e urgentemente, é a "volta ao recomeço" (o trabalho metodológico de Kardec) como ponto de partida, esquecido e vilipendiado, em razão do desinteresse e do despreparo dos próprios espíritas.

 

As reuniões mediúnicas bem como a produção intelectual mediúnica precisam, decisivamente, resgatar os seguintes pontos essenciais:

 

- seriedade e bom senso;

 

- sinceridade, simplicidade, doação e desinteresse na relação entre encarnados-desencarnados;

 

- não adoção de símbolos, vestes especiais, altares, imagens, sons ou qualquer outro fato indutor, tampouco rituais, cerimônias, cantos, danças ou oferendas;

 

- não utilização da mediunidade para a obtenção de respostas ou indicações de interesse pessoal ou a serviço/benefício individual;

 

- respeito integral ao livre-arbítrio dos indivíduos, olvidando impor, coagir forçar, fazer acordos ou ameaças;

 

- submissão de toda a produção medianímica ao crivo da verdade espiritista (comparação/adequação aos princípios básicos da Doutrina Espírita – Existência de Deus; Existência e imortalidade do espírito; Evolução Espiritual; Pluralidade das existências; Pluralidade dos mundos habitados; e, Comunicabilidade entre os Espíritos ou Mediunidade); e,

 

- preparo e dedicação (educação da mediunidade) dos participantes, visando o aperfeiçoamento dos métodos de comunicação e de análise da produção mediúnica, adotando-se o CUEE como instrumento de aferição das mensagens.

 

Por tudo isto, vê-se que Kardec, praticamente sozinho, realizou um trabalho hercúleo e extremamente dedicado, não só para o descortino das informações de origem espiritual como, principalmente, pela eleição e aplicabilidade de um método que, testado e aprovado, gerou como consequências diretas e imediatas o afastamento das informações falsas e a seleção do melhor material a ser publicado – como resultado da pesquisa experimental, ou seja, a Tese (sobre os Espíritos, o Mundo Espiritual e suas correlações com a ambiência física, material, terrena).

 

E o fez sem contar com recursos técnicos, eletrônicos que hoje são encontrados em profusão nos laboratórios de pesquisa científica. Afinal, quando Kardec estabeleceu os meios e as formas de controle, como premissas básicas, o fez tanto para evitar a fraude e o charlatanismo quanto para modular, ao máximo, a interferência anímica na comunicação (já que o animismo não era, substancialmente, o elemento de interesse na investigação). Atualmente, muito mais além do que o tempo de Kardec ou qualquer época passada, os meios eletrônicos de controle, altamente sofisticados e capazes de detectar qualquer tentativa de burla, encontram-se à disposição (eletrodos, sensores, microcâmaras de televisão, visores de raios infravermelhos, células fotoelétricas e outros, em ambiente isolado e seguro, permitem o acompanhamento rigoroso e o registro de tudo o que ocorrer no ambiente, permitindo rigorosa e precisa vigilância do local e do próprio médium.

 

O que nos falta, então, para continuar o trabalho do Codificador, acrescentando, mediante os mesmos critérios do CUEE (ou aperfeiçoados), a complementação das "revelações" espirituais, para questões visivelmente situadas em cenários muito além do tempo/espaço de Rivail?

 

Por fim, vale lembrar que, mesmo assentando-se sobre as manifestações físicas (iniludivelmente a prova da existência do mundo espiritual e da sobrevivência do Espírito), a finalidade do Espiritismo (e das experimentações mediúnicas) é moral e suas pesquisas devem ser direcionadas nesse sentido. Por isso, ao investigar a situação dos espíritos post-morten, visualizando a aplicação das leis espirituais que regulam as relações permanentes entre as individualidades, deve o foco espírita estar centrado na melhoria dessas relações e na análise das consequências dos atos humano-espirituais, no sentido de levar ao aperfeiçoamento (evolução) e a decorrente felicidade individual e social.

 

"[...] o Espiritismo é o Grande Desconhecido dos próprios espíritas. E é por isso, por causa dessa negligência imperdoável no estudo da doutrina, que os próprios adeptos se transformam em eficientes instrumentos de combate ao Espiritismo. [...] E como a base da doutrina é a Ciência, a sólida base dos fatos, a verdade incontestável é que o nosso movimento espírita não tem base. Se os espíritas conscientes não se dispuserem a uma tentativa de reconstrução, de reerguimento desse edifício em perigo, ficaremos na condição de nababos que desprezam as suas riquezas por incompetência para geri-las. Temos nas mãos a Ciência Admirável que o Espírito da Verdade propôs a Descartes e mais tarde confiou a Kardec. Mas do que vale a ciência e o poder, a fortuna e a glória, se não formos capazes de zelar por tudo isso e nem mesmo de compreender o que possuímos?" - Herculano Pires (Curso Dinâmico de Espiritismo: O grande desconhecido, p. 193-194).

 

 

BIBLIOGRAFIA

 

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