O SERMÃO DA MONTANHA

“Se se perdessem todos os livros sacros da humanidade, e só se salvasse O SERMÃO DA MONTANHA, nada estaria perdido.”

Mahatma Gandhi

 

O Sermão da Montanha, Base da Harmonia Espiritual
 

Há séculos que as igrejas cristãs do Ocidente se acham divididas em partidos, e, não
raro, se digladiam ferozmente — pôr causa de quê?

Por causa de determinados dogmas que elas identificam com a doutrina de Jesus —
infalibilidade pontifícia, batismo, confissão, eucaristia, pecado original, redenção pelo sangue de Jesus, unicidade e infalibilidade da Bíblia, etc.

No entanto, seria possível evitar todas essas polêmicas e controvérsias — bastaria que
todos os setores do Cristianismo fizessem do Sermão da Montanha o seu credo único e
universal. Essa mensagem suprema do Cristo não contém uma só palavra de colorido
dogmático-teológicoO Sermão da Montanha é integralmente espiritual, cósmico, ou melhor, “místico-ético”; não uma teoria que o homem deva “crer”, mas uma realidade que ele deve “ser”.
E neste plano não há dissidentes nem hereges. A mística é o “primeiro e maior de todos os mandamentos”, o amor de Deus; a ética é o segundo mandamento” o amor de nossos semelhantes. E, nesta base, é possível uma harmonia universal.

Quem é proclamado “bem-aventurado” feliz? Quem é chamado “filho de Deus”? Quem é que “verá a Deus”? De quem é o ‘reino dos céus”? Será de algum crente no dogma “A”, “B” ou “C”? Será o adepto da teologia desta ou daquela igreja ou seita? Será o partidário de um determinado credo eclesiástico?
Nem vestígio disto!

Os homens bem-aventurados, os cidadãos do reino dos céus, são os “pobres pelo
espírito”, são os “puros de coração”, são os ‘mansos”, os que “sofrem perseguição por causa da justiça”, são os ‘pacificadores”, são os “misericordiosos” e “os que choram”, são os que “amam aos que os odeiam” e “fazem bem aos que lh es fazem mal”.

No dia e na hora em que a cristandade resolver aposentar as suas teologias humanas e
proclamar a divina sabedoria do Sermão da Montanha como credo único e universal, acabarão todas as dissensões guerras de religião e excomunhões de hereges e dissidentes.

Isto, naturalmente, supõe que esse documento máximo de espiritualidade, como
Mahatma Gandhi lhe chama, seja experiencialmente vivido, e não apenas intelectualmente analisado.

A vivência espiritual é convergente e harmonizadora — a análise intelectual é divergente
e desarmonizadora.

Se todos os livros religiosos da humanidade perecessem e só se salvasse o Sermão da
Montanha, nada estaria perdido. Nele se encontram o Oriente e o Ocidente, o Brahmanismo e o Cristianismo e a alma de todas as grandes religiões da humanidade, porque é a síntese da mística e da ética, que ultrapassa todas as filosofias e teologias meramente humanas. 
O que o Nazareno disse, nessa mensagem suprema do seu Evangelho, representa o patrimônio universal das religiões — seja o Kybalion de Hermes Trismegistos, do Egito, sejam os Vedas, Bhagavad-Gita ou oTao Te Ching de Lao-liçe, do Oriente, sejam Pitágoras, Sócrates, Platão ou os Neoplatônicos, sejam São João da Cruz, MeisterEckhart, Tolstoi, Tagore, Gandhi ou Schweitzer — todos convergem nesta mesma Verdade, assim como as linhas de uma pirâmide, distantes na base, se unem todas num único ponto, no vértice.

Se o Evangelho é o coração da Bíblia, o Sermão da Montanha é a alma do Evangelho.

Nesses últimos 50 anos e tanto, o Ocidente foi inundado por um dilúvio de sistemas
místicos e sociedades iniciáticas, cada uma das quais promete a seus adeptos a introdução no reino dos céus. As suas práticas são complicadas, os seus métodos, não raro, artificiais , as suas técnicas, se não desanimam os candidatos pela sua dificuldade, os levam ao orgulho de pretenso super-humanismo e ao desprezo dos “profanos”.

Entretanto, os três capítulos, 5, 6 e 7, do Evangelho segundo São Mateus, nada têm de
misterioso e exótico; são de uma simplicidade tão diáfana como o mais límpido cristal ferido pelos raios solares. A sua dificuldade jaz em outro setor: o Sermão da Montanha convida o homem a abdicar definitivamente do seu velho ego pecador, despojar -se do “homem velho” e revestir-se do “homem novo”, da “nova creatura em Cristo, feita em verdade, justiça e santidade”. Isto, é inegável, é um convite para o homem se deitar sobre a mesa de operação e sofrer uma intervenção cirúrgica, sem anestesia de espécie alguma, suportando todas as dores necessárias para que o novo homem crístico possa nascer sobre as ruínas do velho homem luciférico.

E é precisamente por causa dessa inevitável sangria que as sociedades iniciáticas
procuram contornar essa dolorosa operação cirúrgica e consol am os seus adeptos com teorias e técnicas menos cruéis prometendo -lhes um “parto sem dores” e uma entrada no reino dos céus por alguma secreta portinhola dos fundos. Acham que, na Era Atômica e Cosmonáutica onde o homem viaja de avião a jato, e não mais em canoa ou carro de boi, também o ingresso no reino dos céus deva ser modernizado; essas praxes obsoletas do primeiro século do Cristianismo, como aparecem no Evangelho do Nazareno, acham eles, perderam a sua razão de ser. Vamos, pois, ingerir comodamente a lguns comprimidos de “magia mental” ou “ritualismo esotérico”, a fim de entrarmos suavemente e de con trabando nesse reino da felicidade, e não mais pela “porta estreita e caminho apertado”, como queria o profeta de Nazaré. Hoje em dia, se ele voltasse diz em eles, o Cristo não mais repetiria as palavras cruas do Sermão da Montanha, mas se adaptaria ao estado da nossa civilização e mostraria aos homens o modo de viajar ao céu de Pullmàn e em cabine de luxo...
“Condutores cegos conduzindo outros cegos...”

Nas seguintes páginas passaremos a analisar as principais palavras de Jesus proferidas
no Sermão da Montanha. Mas é necessário que o leitor, depois de ler esta nossa orientação, feche o livro e abra de par em par os olhos da alma, a fim de intuir e viver espiritualmente aquilo que pessoa alguma lhe pode explicar intelectualmente. Quem julga ter compreendi do o sentido real de alguma palavra de Jesus pelo simples fato de tê -la ouvido em uma conferênciaou lido num livro, esse labora em funesta ilusão.

Para além de todo o “inteligir” está o “intuir”, que é uma vivência íntima; está o “saber”,
que é um “saborear” direto e imediato. Em última análise, o homem só sabe aquilo que ele vivee o que ele é.

Para essa vivência íntima do espírito do Cristo necessitam os de um grande silêncio —
silêncio material, mental e emocional; e, mais do que isto, de uma profunda contemplação interior.

Quem não vive, saboreia, sofre e goza a alma do Sermão da Montanha, não o
compreende.

Mas quem o compreende deste modo pode prescindir de qualquer outro sistema de
iniciação.

Aqui se trata, antes de tudo, de ser integralmente sincero e honesto consigo mesmo!

Diz o texto evangélico, que Jesus proferiu esta mensagem, depois de ter passado a noite toda em oração com Deus. Durante essa noite de colóquio íntimo com o Pai dos céus, deve a alma de Jesus ter sido empolgada por uma veemente experiência da Divindade, porque em cada uma das palavras do Sermão da Montanha vibra ainda o eco de uma grande voz e cintila uma luz tão fascinante que ninguém pode ler estas palavras, sem sentir em si, algo desse eco divino, e vislumbrar algo dessa luz celeste...

Se, algum dia, a humanidade fizer as pazes re ligiosas e se harmonizar em Deus,
“adorando o Pai em espírito e em verdade”, então ess e grande Tratado de Paz só poderá ser realizado na base do Sermão da Montanha.

Por outro lado, quanto mais cada indivíduo se identificar vivencialmente com esse
espírito, tanto mais apto se tornará ele para servir de precursor e arauto do reino de Deus sobre a face da terra.

O brado “venha a nós o teu reino!” só poderá ter resposta na atmosfera dessa mensagem do Cristo, porque o “reino de Deus está dentro de nós”, e estas palavras são o mais veemente clamor para o despertar da sua longa dormência e proclamar a “gloriosa liberdade dos filhos de Deus”...

FONTE:
do livro O SERMÃO DA MONTANHA - Rohden, Huberto - ed. ALVORADA

 

ADVERTÊNCIA:

 

A substituição da tradicional palavra latina crear pelo neologismo moderno criar é aceitável em nível de cultura primária, porque favorece a alfabetização e dispensa esforço mental — mas não é aceitável em nível de cultura superior, porque deturpa o pensamento.
Crear é a manifestação da Essência em form a de existência — criar é a transição deuma existência para outra existência.
O poder Infinito é o creador do Universo — um fazendeiro é um criador de gado.
Há entre os homens gênios creadores em bora não sejam talvez criadores.
A conhecida lei de Lavoisier diz que “na natureza nada se crea nada se aniquila, tudo se transforma”, se grafarmos “nada se crea”, esta lei está certa, mas se escrevermos “nada se cria”, ela resulta totalmente falsa.
Por isto, preferimos a verdade e clarez a do pensamento a quaisquer convenções acadêmicas.