A BALANÇA

 

Quando menino, eu vivia brigando com meus companheiros de brinquedos. E voltava para casa lamuriando e queimando-me deles. Isso ocorria, as mais das vezes, com Beto, o meu melhor amigo.

Um dia, quando corri para casa e procurei mamãe para queixar-me do Beto, ela me ouviu e disse o seguinte:
- Vá buscar a sua balança e os blocos.
- Mas, o que tem isso a ver com o Beto?
- Você verá... Vamos fazer uma brincadeira.

A Balanca 1

Obedeci e trouxe a balança e os blocos. Então, ela disse:
- Primeiro, vamos colocar neste prato da balança um bloco para representar cada defeito do Beto. Conte-me quais são.

Fui relacionando-os e certo número de blocos foi empilhado daquele lado.

A Balanca 2

- Você não tem nada mais a dizer?

Eu não tinha. E ela propôs:
- Então você vai, agora, enumerar as qualidades dele. Cada uma delas será um bloco no outro prato da balança.

Eu hesitei, porém ela me animou, dizendo:
- Ele não deixa você andar em sua bicicleta? Não reparte o seu doce com você?

Concordei e passei a mencionar o que havia de bom no caráter do meu amiguinho.

Ela foi colocando os blocos do outro lado. De repente, eu percebi que a balança oscilava.

A Balanca 3

Mas vieram outros e outros blocos em favor do Beto. Dei uma risada e mamãe observou:
- Você gosta do Beto e ficou alegre por verificar que as suas boas qualidades ultrapassam os seus defeitos. Isso sempre acontece, conforme você mesmo vai verificar ao longo de sua vida.

E de fato. Através dos anos, aquele pequeno incidente de pesagem ter exercido importante influência sobre meus julgamentos. Antes de criticar uma pessoa, lembro-me daquela balança e comparo seus pontos bons com os maus. E, felizmente, quase sempre há uma vantagem compensadora, o que fortalece em muito a minha confiança no gênero humano.

A Balanca 4

Fonte: E, Para o Resto da Vida... - Wallace Leal V. Rodrigues - Cap. 1